sábado, 30 de julho de 2011

IPÊ ROXO

Um amigo telefonou-me aos primeiros raios do sol. Queria que eu, durante a minha caminhada matinal, olhasse com especial atenção para a beleza dos ipês roxos que tomaram conta da cidade.

Segundo ele, o ipê floresce no outono, mas este ano, por excesso de chuva, atrasou um pouquinho para florescer.

Durante a caminhada, minha visão foi inundada pela beleza dos ipês em floração. Nem precisava do alerta do meu amigo. Eles estavam por toda parte. Impossível não vê-los.

Fiquei tão inebriado, achei tão irresistível aquele presente da natureza, que até me esqueci das calçadas desumanas, dos asfaltos esburacados e dos dias tão tumultuados que ora vivemos. A beleza da natureza faz isso com a gente!

Essa árvore produz uma linda coleção de flores coloridas: roxa, branca, roxo chá, rosa, amarelo ou roxo amarelo. Seja qual for a cor, o ipê é um regalo para os olhos!

Dizem que essas flores, lindas e perfeitas, servem também para a cura de inúmeros males do corpo, além de, com a sua beleza, ser um bálsamo para a alma.

A visão dos ipês floridos me faz esquecer, por uns momentos, a triste sina da minha cidade. Ela era uma cidade verde. Hoje, por força do progresso, foi invadida pelo concreto.

Recordo-me dos quintais de antigamente. Quintal da minha época de infância só tinha uma estação no ano, que era a de estar no quintal. No quintal de minha casa existiam muitas árvores, na maioria, frutíferas.

Certo dia, ainda menino, eu descobri um lugarzinho, entre a jabuticabeira e o velho cajueiro, de onde podia olhar a lua cheia. Via perfeitamente São Jorge montado em seu cavalo. Era meu refúgio favorito e, naquela contemplação, surgiam em minha mente histórias fantásticas.

Nunca comentei isso com ninguém, para não perder o meu lugar noturno de devaneios. Adulto, revelei o fato à minha mãe. Ela sorriu ao final da minha confissão, e disse-me que, da cozinha, enquanto preparava o jantar, ela observava o meu encantamento.

Nunca comentou comigo este fato. Na sua imensa sabedoria, minha mãe sabia respeitar os nossos momentos de fantasia. Segundo ela, todos precisam dela para viver.

Toda essa lembrança me veio com a visão dos ipês floridos. E, pelo menos no dia de hoje, quero manter em minha retina a visão dessa beleza. Quero poder fantasiar como na minha meninice. Fantasiar com a visão da beleza dos ipês, a minha lua na madureza. Fantasiar e sonhar que Cuiabá, em dias futuros, poderá vir a ser, novamente, a minha Cidade Verde.

Gabriel Novis Neves

21-07-2011

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