sexta-feira, 29 de julho de 2011

Japona

Conheci o Japona - era assim que tratava o Auro Ida – nem sei há quanto tempo. É fácil falar dos que partiram. Irei relatar em síntese a nossa convivência.

Era um jovem jornalista. Persistente no desempenho de garimpeiro da notícia.

Falava baixo. Tinha comigo uma paciência de Jó, quando eu fornecia respostas escorregadias, e um respeito de filho para pai, talvez pela diferença de idade: eu era 23 anos mais velho.

Nunca desistia da resposta se ela não o satisfizesse e prosseguia com o clássico: “e aí?”

Aí, significava o chibiuzinho que procurava para transformá-lo em jóia, que era a manchete dos seus artigos investigatórios.

Tivemos um período de muita aproximação, quando ele morou no único edifício que fica atrás da Clínica Femina.

O estacionamento de carros dos médicos do hospital era em frente ao seu prédio residencial.

Por “coincidência” encontrava sempre o Japona na calçada, como que esperando a notícia - sua grande paixão.

Sorridente, cabeleira imensa, em completo desalinho e sem nenhuma preocupação com o figurino da moda. Não me lembro de ter visto o Japona algum dia de terno, nem quando foi secretário de Comunicação.

Nesses encontros casuais, era inevitável, mesmo com compromissos marcados, não fazer uma paradinha para sempre ouvir a pergunta: “o que você acha?”, ou o, “e aí?”

Nunca neguei uma informação ao jornalista Auro Ida. Ele foi uma dessas pessoas que escolheu a profissão certa e a exerceu com devoção até a sua prematura morte.

Fez em vida o que gostava, e correu todos os riscos que esses profissionais, às vezes, se colocam.

Foi para outro plano espiritual, não deixando nenhum resto a pagar na sua agenda de emoções.

Há cerca de dois meses, um dos meus sobrinhos encontrou o Japona em um quiosque de um shopping da Capital, tomando um cafezinho. Conversaram bastante. Diz meu sobrinho que, entre um assunto e outro, meu nome surgiu. Fiquei sabendo que ele lia minhas crônicas!

Fiquei envaidecido.

Soube deste fato somente quando meu sobrinho me ligou para comunicar a morte do Japona.

Obrigado por suas palavras e até qualquer dia, Japona! Quem sabe, em algum quiosque do céu, para que possamos bater um papo infinito sobre crônicas de leigos?


Gabriel Novis Neves

25-07-2011

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