sábado, 16 de julho de 2011

RUA ENFAIXADA

Pela segunda vez, em menos de um ano, sou vítima do vandalismo humorístico dos meus amigos da padaria.

A desculpa para a primeira intimidação pelas faixas caluniosas de triplo sentido foi pela minha prolongada ausência do Clube dos Fuxiqueiros.

Neste caso, numa certa madrugada de domingo, a rua onde moro amanheceu empetecada de faixas com dizeres de diferentes interpretações.

Até da Espanha recebi um telefonema perguntando se tudo estava bem comigo. A dúvida da minha amiga era saber se eu estava doente ou sequestrado.

A síndica do meu edifício veio fazer-me uma visita de solidariedade, censurando as mulheres de agora, pois a que ela leu do seu apartamento, pedia a minha volta, com desenhos cor de rosa de coraçãozinhos.

A minha filha não conseguiu almoçar no restaurante com a sua família. A todo o momento alguém se aproximava, e em voz baixa de pesar, perguntava-lhe: como vai o seu pai? Foi tudo bem no hospital?

Em casa tive que desligar o telefone, cansado de explicar que aquelas faixas eram brincadeiras.

Um amigo advogado chegou a oferecer os seus serviços profissionais gratuitos, para aquilo que considerava uma grave infração ao Código Penal.

Apelei que não fizesse isso, pois os velhinhos da padaria estavam tão satisfeitos com o terror implantado, que não valia a pena interromper tanta alegria. Até me causava felicidade de sabê-los felizes.

Completei 76 anos de nascimento, e não é que eles aprontaram novamente?

A rua onde moro mais uma vez amanheceu enfaixada. O enredo desta vez foi mais objetivo. Para não me chamarem de velho, já no prato da balança dos 80, bolaram faixas com dizeres amorosos das minhas colegas de juventude.

Quem passava pela movimentada rua, ficava deslumbrado em saber que fui contemporâneo da Carmem Miranda, Dercy Gonçalves, Hebe Camargo, Tônia Carrero, entre outras.

Recebi e-mails de pessoas interessadas em saber da vida das minhas amigas famosas e a receita da minha juventude.

Ruas enfaixadas é uma tradição em Cuiabá. Houve uma época que existiam tantas faixas nas ruas que prejudicavam o trânsito, além da poluição visual. Mas, quem mora em Cuiabá sabe ser impossível acabar com faixas comemorativas.

Interessante o visual das ruas enfaixadas com remendos de esparadrapo no asfalto abafa poeira.

Essa é a cidade que amo! As brincadeiras simples, fazendo a alegria de muitos.

Gabriel Novis Neves

08-07-2011

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