domingo, 27 de março de 2011

Idade

Sou o primogênito de uma família de nove irmãos. Com exceção de três meses por ano, estamos sempre comemorando o aniversário de um dos nove. Considerando que todos são casados, e com inúmeros descendentes, os aniversários entre nós passaram a ser comemorados duas vezes por semana.

Já estamos na quarta geração da “dinastia” Irene – Bugre. Uma família bastante numerosa. Pois bem. Fui ao aniversário da minha irmã número cinco, em companhia do meu irmão número três. Na manhã seguinte à festa, mal o dia começava a raiar recebo um telefonema. Era minha irmã número dois. Queria saber as novidades da festa, pois não pudera comparecer - ficara cuidando do meu cunhado número um recém-operado. De cara foi logo me perguntando se o irmão número três tinha comparecido à festa. Claro que sim, respondi. E você também foi? Quis saber ela. Ora bolas! – retruquei – eu sou o acompanhante oficial dele, se eu não fosse ele também não iria. Dando prosseguimento ao interrogatório, me pergunta se tinha muita gente presente e quem estava lá. Mais uma vez sacio a sua curiosidade. Não sei muito bem o que ela entende por muita gente, mas para simplificar a conversa matutina respondi que não havia cadeira vazia. Parece que ela ficou satisfeita com a resposta. Agora, quanto a citar o nome de todos os presentes, aí já era abusar do meu senso de observação e lhe informei que era impossível citá-los.

Imaginando estar a minha irmã número dois satisfeita com o relatório, estava eu prestes a dar por encerrada a conversa, quando recebo o golpe fatal na minha santa paciência: a irmã número cinco compareceu? Ela me perguntou, e eu não acreditei no que estava ouvindo. Valha-me São Benedito! A irmã número cinco era justamente a aniversariante e a festa era na sua casa. Aí não teve jeito – entrei em convulsão.

O meu irmão número três que mora comigo, e entende tudo sobre diabetes e convulsão vem em meu socorro - pega a sua fitinha de medir glicemia, pensando tratar-se de crise de hipoglicemia. Com o resultado normal e eu acordando, ele me pergunta se está tudo bem comigo. Disse que sim. Ele então insinuou, jocosamente, que eu tive foi um ataque de histeria. Claro que concordei com ele! Eu precisava, naquele momento, era de uma fitinha para medir o meu teste de tolerância, que naquele momento estava zero, para perguntas desarticuladas. Voltando ao telefone - a irmã número dois ainda estava a postos, só escutando a balbúrdia – perguntei se ela tinha noção do absurdo da pergunta. Ela deu uma gostosa gargalhada e disse para perdoá-la pelo equívoco. Na verdade ela queria se referir à irmã número nove. Finalizou me dizendo num sussurro: “Também são tantos... na nossa idade as confusões agora são mais frequentes.” Vejam bem! Ela, ainda por cima de tudo, me incluiu no rol dos confusos.

Encerrando este maravilhoso colóquio matinal informei-a que a aniversariante número cinco estava muito feliz, e a que a cantora do conjunto era excelente.

Gabriel Novis Neves

06/03/2011

Um comentário:

  1. Talvez o "lance" seria "ouvir" sem querer dar a resposta certeira! Há pessoas, como nós, que gostam de escrever. Há as que gostam de falar. Nós, escrevemos porque gostamos. É um ato mais libertário - lê quem quer. Quem fala, parece querer respostas - cabe a nós mostrar que nem sempre as temos ou queremos dar!

    De qualquer maneira, gracias pelo riso desta manhã chuvosa aqui no RS, ao imaginar um homem tendo um clilique de impaciência (e raiva) e sendo socorrido por um irmão e a fitinha! Muito bom!
    (Desculpe! rsrrsrsrs)

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