domingo, 21 de fevereiro de 2010

PARA QUE SERVE O SUS?

Prometi em recente artigo que não falaria mais sobre a saúde. Entretanto, por força das circunstâncias, sou obrigado a rever este compromisso, e não sinto nenhum constrangimento em dizer que estou voltando ao tema. Revi minha posição e acho que, neste caso, o silêncio seria sinal de desumanidade e covardia para com os que sofrem.

Toda imprensa de Cuiabá divulgou a notícia do nascimento de gêmeas siamesas no único hospital público da cidade e que só atende pacientes do SUS. As gêmeas necessitam com urgência serem removidas para São Paulo ou outros Centros Médicos, para procedimentos cirúrgicos que ainda não se realizam aqui. Essa cirurgia é necessária para tentar a sobrevivência das duas recém nascidas. O SUS, que na opinião do nosso Presidente, está quase atingindo a perfeição, e tem como fundamento básico a escalada do paciente do posto de saúde até o hospital de alta complexidade, ainda não conseguiu transferir essas irmãs siamesas. As papeladas exigidas para ganhar tempo já estão prontas. Aguarda o parecer técnico e autorização da Central de Regulação de Sistema Único (SUS), para a viagem. O especialista que fará o laudo pediu 08 (oito) dias úteis para elaborar o documento.

Não posso me calar! O Presidente e todos os seus auxiliares, num efeito cascata nos Estados e outros Poderes, são imediatamente transferidos para o Hospital Sírio Libanês ou Albert Einstein em São Paulo, ao menor sinal de tontura. Todas as despesas são pagas pela “mamãe pátria”. Aquele avião grande, francês, de quinze em quinze dias vai à Porto Alegre para transportar uma dermatologista famosa até Brasília, para atendimento em pessoa especial. O Presidente sugeriu ao Obama que copie o modelo do SUS. O doutor de Harvard gritou: “Este é o cara!”

Por aqui as coisas não são diferentes. Qualquer dono de hospital privado sem convênio com o SUS, é bombardeado de todos os lados para internar crianças com simples pneumonia. São filhos de cabos eleitorais. E o pagamento? É feito por tabela especial, que nesses casos é religiosamente pago. Se for uma internação pela Central de Regulação do SUS, o pagamento do procedimento efetuado é complicado. Uma verdadeira epopéia para se receber os honorários! Será que essas irmãs siamesas não possuem parentes e seus pais não votam? Será que o Governo não se comove com a situação dessas meninas, só pelo fato de não saberem ainda ler cartas de carinhos dizendo que o homem é bom?

A família das meninas é pobre, e está abandonada pelos que detém o poder de oferecer auxílio imediato: protelam, protelam e protelam. A família então está pedindo ajuda à população para que as gêmeas viajem, e cheguem a um centro médico especializado a tempo. Suas possibilidades de sucesso dependem da rapidez da intervenção – e o governo protela!?!

Expliquem-me, por favor! Para que serve o SUS? O Presidente e as autoridades nunca na história deste país utilizaram-se dos seus serviços. E os pobres que dependem do SUS, são condenados à morte. O governo lança o programa “Passageiro Especial”, com festas, semiferiado e com a presença do adorador de crianças - aquele que escreve cartinhas às crianças. Essas irmãs por acaso não são passageiras especiais?

Gabriel Novis Neves
20/02/2010

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