quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

VIREI NOBRE

Os nobres possuem nomes quilométricos. Os membros desta classe tem por costume incorporar ao nome, os sobrenomes de todos os antepassados. E, à medida que se casam, os seus descendentes vão acrescentando mais sobrenomes ao nome. Como é uma tradição que remonta à Idade Média, é fácil imaginar a dificuldade que um filho de nobre atualmente tem para aprender escrever o seu nome completo – nome e sobrenome.

Fui casado com uma descendente de Luiz XV. Ela tinha um nome duplo e quinze sobrenomes, como aqui chamamos. Para escrever o seu nome completo da certidão de nascimento, eram necessárias três linhas de caderno espiral. A minha mulher, entretanto, sempre preferiu ser chamada por Regina, Regininha, e, com o aparecimento dos netos, de Vó.

Como plebeu tenho o meu nome de batismo, acrescentado do sobrenome materno e paterno – nesta ordem conforme o nosso costume. O meu nome é muito simples e discreto. Os sobrenomes, de tão parecidos, são muitas vezes confundidos. O meu nome é de um Arcanjo (não confundir com Anjo), muito especial. Acho até que ele interferiu na minha profissão: médico anunciador da chegada das crianças. O meu xará anunciou a chegada do menino Jesus, que veio a terra para nos salvar. O resultado desse arranjo foi o aparecimento do GNN. Simples assim.

Mas... Nasci aqui, na terra dos apelidos. Portanto, desde pequeno fui bombardeado por uma série deles. Nenhum vingou. Na adolescência e idade madura, novos ataques de apelidos, todos sem sucesso. Para o meu desespero durante anos fui chamado de Magnífico, pelo cargo público que ocupei e também pela novidade do título, pois fui o primeiro a exercer esse cargo. Até hoje os mais antigos me chamam não pelo nome angelical, mas pelo nome do cargo que permaneci nele durante anos.

No crepúsculo da minha vida, já sem forças físicas para me defender, sou bombardeado com novos apelidos, desta vez o ataque foi desferido por certeiros profissionais. O “Ghandi do Porto”, dono daquele “site que ninguém lê”, acrescentou ao meu sobrenome, ÍNDIO VÉIO. A proprietária do “nogargalo” premiou-me com MÉDICO de ALMAS. O livre pensador, filósofo da baixada fluminense e também empresário da “paginadoe”, me contemplou com ARTICULADOR. Para completar, a dona do “prosaepolítica”, só me chama de MADRE SUPERIORA. O editor do “bar-do-bugre” me chama de ESTIMADO PROFESSOR.

Na idade em que estou a minha única preocupação é não ser atacado pela caduquice. Apelidos? Por que não? Fiquei com nome de nobre: contei agora – são doze sobrenomes incorporados ao meu nome. Vejam agora as minhas iniciais - o antigo GNN foi transformado em: GNNIVMDAAMSEP. Virei nobre!

Gabriel Novis Neves
29/01/2010

2 comentários:

  1. Pois então NOBRE Dr Gabriel, esqueceu o MEU AMADO MEDICO. Mas a sua nobreza essencial esta no seu coracão, essa não tem nome.

    Beijos

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  2. Ótima crônica! Acaba de conquistar mais um fã.

    Bruno Brandão Cardoso Cabral

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