quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Chutou o balde

“Vou chutar o balde” - diz a sabedoria popular. Expressão de uma simplicidade espantosa, mas que resume um estado de espírito prá lá de complicado! (É o mesmo que chutar o pau da barraca.) Já serviu até de inspiração para o sambista e compositor popular Ney Lopes lançar um CD: “Chutando o Balde”. Chutar o balde é o significado máximo de liberdade. É quando você “não agüenta mais viver satisfazendo as vontades de outrem e resolve fazer algo por si”. É largar de mão qualquer coisa. É não está nem aí para o que vier.

Hoje pela manhã recebi um email de uma querida amiga informando-me que chutou o balde e se arrancou. Alertou que estava me comunicando a sua decisão, e conversa, só depois do depois. Nada de pessoal comigo, apenas gentileza e desabafo de uma amiga que não acreditava e não suportava mais o que estava vivendo no presente. Resolveu largar tudo para trás e viver uma nova vida - o que faz muito bem. O presente que então viverá será de emoções genuínas, e não fabricadas. Tenho certeza que não fará nenhuma economia de tempo nos próximos quinze dias. Mesmo sabendo que os seus amigos sentirão a sua ausência, e das prováveis implicações do seu ato, ela chutou o balde.

A decisão tomada pela minha amiga despertou em mim sentimentos mistos de admiração e inveja. Admiração porque é preciso certo grau de coragem para chutar o balde e arcar com todas as suas conseqüências; inveja porque não possuo mais o ímpeto da juventude para dar chutes espetaculares.

Quando jogava futebol, às vezes chutava a bandeirinha de escanteio, por raiva de um insucesso. Depois chutei dois empregos que conquistei por concurso no Rio de Janeiro, para retornar à Cuiabá. Continuei a chutar baldes durante grande parte da minha caminhada. Agora não tenho mais forças físicas para os chutões da juventude. Considero os meus chutes de hoje como modestas bicadas em balde vazio. Nada mais que isto. A minha amiga não. Acertou um balde cheio de água que, com a violência do seu chute, espirrou água para todos os lados. Pagou o preço da sua liberdade.

Como deve estar feliz e aliviada a danadinha! Com certeza voltará reabastecida com novas energias para continuar a sua brilhante carreira com maior qualidade de vida. Isto me faz lembrar o Gonzaguinha, que há muito chutou o balde: “Viver e não ter a vergonha de ser feliz...”

Gabriel Novis Neves
10/02/2010

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