quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Folia de Momo

Geograficamente assim divido o Brasil: quatro grandes regiões, uma ilha da fantasia e uma faixa litorânea palco de grandes conflitos - que antigamente, era a capital cultural do Brasil. Todas essas áreas têm suas características próprias, porém, encontro uma característica comum a todas.

Com a intenção de se corrigir um equívoco histórico é que gostaria, neste período propício, corrigi-lo. Todos os brasileiros dizem que no nordeste, cuja capital é Salvador, o povo comemora o carnaval o ano todo. É um povo festeiro que detesta o trabalho, dizem. Sei que não é bem assim. A alegria do nordestino é a sua maior riqueza, e uma das suas principais fontes de recursos financeiros para reforço do tesouro – fabrica de turismo.

O centro-sul maravilha, hoje um grande centro poluidor simbolizado por suas indústrias, é a fotografia digital do Brasil desigual. Os três estados do extremo sul do Brasil são fornecedores da maior corrente migratória para ocupação do cerrado e região amazônica. A Amazônia, eterna cobiça dos estrangeiros e nativos, a passos céleres caminha para a sua extinção.

Na ilha da fantasia tudo é ilusório e permitido. Tem gente que fala muito, gente que nunca fala e é, na verdade, um grande centro de negócios, ou negociatas. O que falar da faixinha litorânea de Estácio de Sá há anos em conflito armado? O maior espetáculo desta faixa são as suas lindas mulheres seminuas, algumas com carteira assinada de modelo, bem diferente das francesas e polacas do início do século XX.

A característica comum a todas as regiões brasileiras, incluindo a ilha da fantasia, é o carnaval. A cobertura da mídia é completa e sofisticada, centrada com antecedência na capital do nordeste. Que coisa maravilhosa! Ontem pela televisão conheci a intimidade do carro eletrônico da deusa baiana do momento. Fiquei encantado com a tecnologia que cheira dinheiro, e as explicações da deusa. O repórter esperto entrevistou duas foliãs. Sensacional! A pergunta foi a mesma: “É a primeira vez que vem ao carnaval aqui”? “Não, freqüento há 23 anos sem faltas.” A companheira emenda, “estou há 16 anos e não pretendo faltar enquanto saúde tiver”.

Hoje cedo lendo os jornais fico sabendo que a venda de abadás foi a pior dos últimos anos. Hotéis e pousadas também estão com vagas ociosas. Mas a animação eletrônica é fantástica. E as outras regiões do Brasil não possuem carnaval? Claro que sim! Por aqui começou logo na terça-feira, com o esvaziamento da cidade e repercussões no orçamento público. Pobre do contribuinte que necessitar do serviço público! Órgãos puramente burocráticos estavam quase todos com seus chefes viajando, e retorno sem data prevista. E ainda dizem que quem não trabalha e gosta de festa são os nordestinos!

Por aqui não há sinais de folia, mas o pessoal do poder a muito tempo abandonou o trabalho, na maioria das vezes, seguidos dos nativos. Quero ter esperança que antes da Semana Santa consiga resolver as minhas pendengas. Imagine esta cidade na Copa do Mundo, quando todo mundo vai viajar para acompanhar a seleção canarinho! Acho que só eu estarei aqui, no novo Verdão de oitocentos milhões.

Gabriel Novis Neves
14-02-2010

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