domingo, 28 de fevereiro de 2010

PROFESSOR DITÃO

Simpático, bem humorado, respeitado, culto e admirado por todos. Chamam-no “Professor Ditão”. Assim é conhecido aqui em sua cidade o professor Benedito de Figueiredo. É um sábio o professor Ditão! Viveu e vive como um verdadeiro apóstolo da educação!

Várias gerações de cuiabanos tiveram o privilégio de conviver com o professor da Rua Nova - que conheci ainda criança. Sempre disciplinado e rígido nos seus compromissos, encantava a todos com os seus conhecimentos e simplicidade. É um erudito da língua portuguesa e do latim. Fico até temeroso em não achar palavras capazes de retratar as excelências necessárias para me dirigir a tão alta personagem. Mas, vou atrever-me a fazê-lo, ou pelo menos, tentar.

Emocionado e honrado recebo o convite para as festas do seu centenário de vida. Minha convivência com o Professor Ditão foi marcada por momentos que considero como, inesquecíveis, alegres e de grande aprendizado. Vivemos muitas histórias - tanto social, quanto fraternal e profissionalmente. Alguns dos seus netos nasceram em minhas mãos. Família aumentando é sempre uma benção. Quando ele transformou a Chácara do Coxipó no Bairro Jardim Califórnia, queria que eu construísse a minha casa lá, e escolheu dois lotes de terrenos em pontos privilegiados que comprei. Ah, Professor Ditão, até com o nosso conforto ele se preocupava!

A nossa convivência acadêmica foi longa e profícua – de 1968 a 1982. Tudo começou no Instituto de Ciências e Letras de Cuiabá (ICLC), e continuou na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). Recebi de Deus a graça de ser o Reitor do meu ídolo e sábio! O sábio é diferente do medíocre, que precisa de títulos para provar que não é qualquer um.

Para não ser traído pela memória, tão comum na minha idade, e não cometer equívocos fui à pesquisa: consultei o Google sobre a nossa UFMT - o nosso querido Reitor Benedito Pedro Dorilêo. Professor Ditão é um auto didata. Não possui nenhum curso superior. Possui o título de bacharel do antigo Liceu Cuyabano. Sempre lecionou português e latim - disciplinas que domina como poucos. Pertencia, como docente na UFMT, ao Departamento de Letras. Por ocasião do reconhecimento do curso pelo Conselho Federal de Educação (CFE), preocupei-me com a morosidade no andamento do processo. Solicitei então uma audiência com o Presidente do CFE, onde recebi um verdadeiro, porém fraterno, sermão: “Como é que o senhor pede o reconhecimento de um curso superior, e encaminha entre os seus docentes, professores que não possuem graduação em curso universitário? O seu curso dessa forma poderá não ser reconhecido pelo CFE, e a sua situação como reitor ficará bastante abalada.” Ouvi tudo em silêncio – já esperava este tipo de reação. Perguntei ao Presidente do CFE se ele já tinha tido a grata oportunidade de trabalhar com sábios. Pelo seu ar intrigado, percebi que não. Fiz então uma rápida biografia do Professor Ditão. O Curso de Letras foi aprovado pelo relator e por unanimidade pelo plenário do CFE. O currículo do Professor Ditão aprovado pelo CFE - como Professor de Notório Saber. Aposentou-se na UFMT na década se 80, como Professor Fundador Adjunto.

Obrigado Professor Ditão, por ser um exemplo vivo de humildade, grandiosidade e competência!

Gabriel Novis Neves
28/02/2010

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