domingo, 21 de fevereiro de 2010

Carnaval de família

Sou um pacato e idoso cidadão. No período das festas de Momo, não saí de casa. Também não escutei nenhum ressoar de tamborim. Foram quatro dias de total paz, e não de solidão. Escrevi, meditei, conversei com amigos e aproveitei para colocar minha leitura em dia. Que felicidade! “A felicidade se faz, não se acha”, como dizia Hardy. Só saí para caminhar e comprar pão na padaria. Na segunda-feira à noite fui ao aeroporto receber meu irmão que mora comigo. Deixei o tempo correr solto. O relógio foi um apetrecho que nem olhei – detesto aqueles ponteirinhos andando nos impondo seus horários. Televisão então... nem cheguei perto, nem mesmo para conferir os novos modelos de silicone e os famosos desfilando na Sapucaí – com certeza em certas rodas vou estar bem desatualizado!

Mas, nem tudo nesta vida é perfeito. As manchetes estampadas nos nossos jornais locais me deixaram um pouco preocupado. Mesmo neste período de festas os jornais nos trouxeram notícias que nada tinham de carnaval: enchentes do rio Cuiabá, riachos e córregos com centenas de vítimas abandonadas à própria sorte. Para complicar a situação o nosso Corpo de Bombeiros não tem equipamentos para essas emergências e os nossos governantes estavam, e continuam de férias. Outra manchete do carnaval que muito me preocupou, foi a notícia da falência dos hospitais filantrópicos.

Acabada a folia, e para não assistir a terrível repetição do ‘’Bloco do Bacalhau do Batata’’ em Olinda, ligo a minha televisão no canal pago - na noite de cinzas - para ver o Botafogo desfilar no Maracanã. Logo o meu Bota mandou para casa, sem dó nem piedade - os jogadores que desfilaram na Sapucaí. Depois desse alento consegui recuperar um pouquinho a minha felicidade, e dormi tranqüilo. Acabou o carnaval – agora vamos ver se ano começa.

Ah, ia me esquecendo! Vou transcrever para vocês uma pequena parte das notícias que li sobre o período carnavalesco - informações oficiais com relação ao número de ocorrências policiais. SOMENTE 2.130 (duas mil cento e trinta) ocorrências foram anotadas. Leiam algumas:
- SÓ 10 (dez) foram relativas a homicídios.
- SÓ 81 (oitenta e um) apreensões de armas brancas.
- SÓ 36 (trinta e seis) apreensões de armas de fogo.
- SÓ 302 (trezentos e dois) pessoas presas em flagrante delito.
-SÓ 272 (duzentos e setenta e dois) acidentes automobilísticos.

Agora, a pérola final. Na conclusão deste excelente quadro demonstrativo da nossa segurança, leio o seguinte: “em razão da sensação que a sociedade vem experimentando, este ano foi o Carnaval da Família”. Carnaval da Família? Cruz credo!!! Quero mais é ficar em ficar em casa.

Gabriel Novis Neves
19/02/2010

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