Com
mais de meio século de exercício efetivo da profissão muitos me perguntam o que
é ser médico.
Aos
que não se definiram ainda por uma profissão, procuro ser honesto e tento
desencorajá-los da ex-profissão liberal e nobre. A medicina humanística
desapareceu e deu espaço para a medicina tecnológica.
O
médico da família foi banido pelos planos do Governo e substituído pelos
“especialistas”.
A
relação médico-paciente foi substituída pela judicialização da medicina.
O
antigo profissional respeitado e aceito pela sociedade é visto como um
mercenário.
Então,
o que atrai tantos jovens a procurar o curso de medicina e colocar o Brasil
como o segundo país do mundo em escolas médicas?
A
má qualidade do ensino vem do fundamental ao superior.
A
função precípua do médico atualmente é receitar algum tipo de medicamento,
mesmo diante de um simples resfriado.
Isso
irá satisfazer o paciente vitimado pela ideologia da eficiência tecnológica.
Outra
função do médico dos nossos dias é assinar atestado de óbito de uma criança e
tentar consolar uma pobre mãe.
Médico
é um cidadão que, após um dificílimo vestibular altamente competitivo, fica
seis anos estudando na Universidade e dois a três na Residência de disciplinas
básicas. Mais dois se desejar uma especialidade.
Depois,
no mínimo dois anos de mestrado e mais dois de doutorado.
Assim
ainda, aquele que era um profissional respeitado pela sociedade é visto hoje
como um profissional de negócios da doença.
Repito:
o que atrai tantos jovens a procurar os cursos de Medicina? Eles já não sabem
que a função do médico ficou mercantilizada e avaliada pelo número de exames
laboratoriais pedidos, alguns totalmente dispensáveis?
São
geralmente as especialidades médicas que exploram a vaidade humana, ou aquelas
dos exames complementares.
Outra
função é a política de acobertar desmandos do governo nessa área tão importante
e sensível que é a saúde publica.
Médico
é um profissional que depois de estudar por muitos anos está apto a exercer a
sua função através de um concurso público para ganhar ao equivalente a um
cobrador de ônibus pertencente a um bom sindicato.
O
médico, de um modo geral, vive ameaçado pelos seus clientes. Ele entra em
cirurgias com pacientes acometidos pelas mais diversas doenças
infectocontagiosas, com riscos sérios de contaminação, muitas vezes em locais
sem as mínimas condições de exercer a sua profissão.
Além
de tudo isso, em sua quase unanimidade, recebe o titulo ‘fantasia’ de
profissional com pouca ética, até mesmo pelo órgão que o emprega.
Sou
médico e exerço a minha profissão até hoje porque amo cuidar de seres humanos
fragilizados.
Não
há dinheiro no mundo que pague isso. Ser médico foi uma das melhores escolhas
que fiz em minha vida, entretanto, não sei se o faria nos dias atuais.
Valores
foram muito mudados, e a humanização do profissional, outrora fundamental, não
mais existe.
Sinal
dos tempos...
Gabriel
Novis Neves
14-10-2014
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