segunda-feira, 27 de outubro de 2014

A BUSCA DO “EXTRA”


Não temos o hábito de nos atermos ao significado das palavras.
Tal quais as imagens do dia a dia, como o nascer do sol, as noites enluaradas, o movimento repetitivo das marés, a chuva fina através de uma janela, o canto dos pássaros, nos  habituamos às palavras sem sequer questionar o que elas nos transmitem.
Esquecemo-nos que a força delas  é a própria força da vida, e que muitas vezes, o mal colocá-las pode desencadear emoções não condizentes com a realidade.
O cenário nos mostrado pela natureza é considerado “ordinário” pela grande maioria das pessoas.
O  “extra” “ordinário” deveria transmitir algo além do trivial.  Essa, de um modo geral, é a nossa expectativa.
Triste esse modo de ver a vida, em que tudo o que nos é oferecido gratuitamente, e que nos rodeia, apenas existe, sem nos darmos conta da sua magnitude.
Essa anestesia generalizada, essa incapacidade de interiorizar a natureza, esse profundo desprezo com o outro e pelo outro são,  a meu ver, as maiores causas do desencanto, precursor da depressão.
É como se não conseguíssemos nos integrar a um mundo ao qual  não nos reconhecemos pertencentes.
Incrível pensar que nem as guerras, nem as doenças, nem as perdas, nos afastam tanto de nós mesmos  e do mundo em que vivemos, como as nossas angústias existenciais.
Claro que não podemos esquecer os fatores endógenos, químicos, muitas vezes responsáveis  pelas tristezas profundas  sem causa aparente. Nesses casos, a medicina moderna, algumas vezes, obtém algum sucesso.
Apenas estou convencido de que se nos  propusermos, com alguma frequência, a desenvolver um exercício reflexivo sobre a nossa existência no planeta, teríamos um mundo mais colorido e melhor compreendido.
O simples viver, pelo ato de viver, sem questionamentos existenciais.
Quem já viveu no campo sabe bem do que estou falando, daquelas pessoas que, na sua simplicidade, se entregam à beleza do momento sem questionamentos maiores.
Adoecem menos e vivem o presente com a pureza de uma criança que ganhou um brinquedo.
Por que estar sempre precisando do “extra” “ordinário”, se o “ordinário” é o que nos rodeia?
Acabo de pensar que a busca do “extra” é a causa de todos os nossos males...

Gabriel Novis Neves
19-10-2014

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