Não
temos o hábito de nos atermos ao significado das palavras.
Tal
quais as imagens do dia a dia, como o nascer do sol, as noites enluaradas, o
movimento repetitivo das marés, a chuva fina através de uma janela, o canto dos
pássaros, nos habituamos às palavras sem
sequer questionar o que elas nos transmitem.
Esquecemo-nos
que a força delas é a própria força da
vida, e que muitas vezes, o mal colocá-las pode desencadear emoções não
condizentes com a realidade.
O
cenário nos mostrado pela natureza é considerado “ordinário” pela grande
maioria das pessoas.
O “extra” “ordinário” deveria transmitir algo
além do trivial. Essa, de um modo geral,
é a nossa expectativa.
Triste
esse modo de ver a vida, em que tudo o que nos é oferecido gratuitamente, e que
nos rodeia, apenas existe, sem nos darmos conta da sua magnitude.
Essa
anestesia generalizada, essa incapacidade de interiorizar a natureza, esse
profundo desprezo com o outro e pelo outro são,
a meu ver, as maiores causas do desencanto, precursor da depressão.
É
como se não conseguíssemos nos integrar a um mundo ao qual não nos reconhecemos pertencentes.
Incrível
pensar que nem as guerras, nem as doenças, nem as perdas, nos afastam tanto de
nós mesmos e do mundo em que vivemos,
como as nossas angústias existenciais.
Claro
que não podemos esquecer os fatores endógenos, químicos, muitas vezes
responsáveis pelas tristezas
profundas sem causa aparente. Nesses
casos, a medicina moderna, algumas vezes, obtém algum sucesso.
Apenas
estou convencido de que se nos
propusermos, com alguma frequência, a desenvolver um exercício reflexivo
sobre a nossa existência no planeta, teríamos um mundo mais colorido e melhor
compreendido.
O
simples viver, pelo ato de viver, sem questionamentos existenciais.
Quem
já viveu no campo sabe bem do que estou falando, daquelas pessoas que, na sua
simplicidade, se entregam à beleza do momento sem questionamentos maiores.
Adoecem
menos e vivem o presente com a pureza de uma criança que ganhou um brinquedo.
Por
que estar sempre precisando do “extra” “ordinário”, se o “ordinário” é o que
nos rodeia?
Acabo
de pensar que a busca do “extra” é a causa de todos os nossos males...
Gabriel
Novis Neves
19-10-2014
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