Certa
ocasião, durante uma viagem, pedi à aeromoça um pedaço de papel. Gostaria de
escrever sobre um fato que acabara de presenciar a dez mil metros de altura.
Ela
me respondeu se guardanapo servia. Respondi que sim, e recebi um pacote deles.
Papel
fininho. Escrevi com todo o cuidado para aproveitar aquela oportunidade, antes
que o natural esquecimento esvaziasse o consciente e enviasse aquelas
informações para o arquivo do inconsciente.
Afoitamente
iniciei a escrever, com todo o cuidado que a situação exigia.
No
seu retorno com o carrinho de coisas - verdadeiro mercado ambulante dos longos
corredores dos modernos aviões, ela me perguntou se precisava de mais
"munição".
Expliquei-lhe
que tinha observado tanta coisa curiosa e que aceitaria o reforço oferecido.
Ela
sorriu, abrindo a possibilidade que eu pretendia: conhecer alguns fatos
repetitivos nos voos e que incomodavam a tripulação de bordo que atende ao
público durante as viagens.
Pedi
então que ela me contasse um fato que a incomodava.
Ela
falou que “tem muita gente que pensa que piso do corredor de avião é
esterilizado. Impressionante como deixam os seus bebês engatinhar no carpete
contaminado que forra a longa avenida dos modernos intercontinentais”.
Tenho
vontade de informar às famílias que assim procedem que, o mais pesado que o ar
percorre, em questão de horas, o planeta Terra, trazendo com ele bactérias
e vírus até então desconhecidos para nós.
O
mais grave é que esses organismos, só vistos ao microscópio de grande
resolutividade, sofrem inúmeras mutações produzindo, inclusive, doenças
desconhecidas à ciência.
O
povo chama essas patologias desconhecidas como a "doença do avião".
As criancinhas, alegres
com a novidade da brincadeira, ficam com as mãozinhas, corpo e vestuário
imundos da sujeira perigosa.
E,
mesmo assim, os pais lhes oferecem guloseimas que são agarradas com as mãos
perigosas dos seus rebentos.
Como
faz falta a educação voltada para a vida!
Muitas
vezes essas viagens são programadas para países desenvolvidos para,
desde cedo, mostrarem às crianças outras culturas.
Entretanto,
os pais se esquecem dos fundamentos da educação, que é aprendida em casa, e que
começa com as noções básicas de higiene, dentre elas: lavar as mãos antes de
qualquer refeição.
O
grande filósofo Eduardo Portela - aquele intelectual que foi convidado a fazer
a abertura da educação do regime de exceção para a democracia e que marcou a
sua presença ao dizer que estava ministro - muito bem definiu o tipo de
educação tão em moda atualmente - a “Educação ornamental e ociosa".
Precisamos
de muita educação voltada para a vida das pessoas. Só esta produz
a ascensão social.
Pais!
Cuidem dos seus filhos. Não os preparem para terem na sala de visitas um
diploma de decoração.
Gabriel
Novis Neves
15-09-2013
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