quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Desfile

De uma maneira conceitual, quem desfila, desfila alguma coisa para alguém. Até aí, pura lógica.
Entretanto, de há muito, nós brasileiros nos desabituamos a fatos e ações que contenham algum tipo de lógica.
É tanto surrealismo nas questões éticas e políticas que nos rodeiam, que até já imaginamos que esses conceitos pertençam a uma retórica do passado.
No dia 7 de setembro, “Dia da Independência” de nosso país, o que se viu por esse Brasil afora foi uma quase nula ausência de público  nas arquibancadas dos desfiles, coisa inédita em outros tempos.
Lembro-me que, quando ainda ginasianos, éramos solicitados a participar dessa festa, o que nos enchia de orgulho. Mesmo com os pesados uniformes da época, semelhantes às fardas militares, o nosso ufanismo vencia, em muito, o calor e o cansaço que essas paradas representavam.
O que se viu nesse dia no Rio de Janeiro foram desfilantes abandonando seus postos para ajudar a polícia a combater as manifestações de rua, que permaneceram com faixas e cartazes protestando  durante  a exibição bélica.
Todos os detentores do poder sabiam que esse desfile não seria oportuno num momento de tanta insatisfação popular, em que a exibição de armas pseudoprotetoras só conseguiria gerar mais revolta e mais insegurança.
Prefeitos de algumas cidades, mais lúcidos e mais cautelosos, cancelaram as paradas cívicas, tendo em vista a real impossibilidade de sua realização  por absoluta falta de segurança.
A ausência do Presidente da Câmara e do Senado nos desfiles em Brasília foi a prova máxima de que a classe política vigente, nada representativa no momento, se sente atemorizada pelo próprio povo que a elegeu.
Em nossa quase tricentenária Cuiabá, o governador e seu vice, assim como o prefeito, faltaram ao evento.
Jornalistas e cinegrafistas que tentavam documentar o desfile, em várias cidades foram agredidos e intoxicados pelas inúmeras bombas de gás lacrimogêneo que eram atiradas a esmo, na tentativa de impedir manifestações populares, já esperadas com grande antecedência.
Enfim, um dia triste, com espetáculos deprimentes para um povo que não mais aguenta  a injustiça social e as práticas palacianas, tão  semelhantes às que aconteciam em Versailles, antes que o povo desse um basta.
Afinal, presenciamos através da mídia um desfile de Nada  para Ninguém.

Gabriel Novis Neves
 08-09-2013

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