De
uma maneira conceitual, quem desfila, desfila alguma coisa para alguém. Até aí,
pura lógica.
Entretanto,
de há muito, nós brasileiros nos desabituamos a fatos e ações que contenham
algum tipo de lógica.
É
tanto surrealismo nas questões éticas e políticas que nos rodeiam, que até já
imaginamos que esses conceitos pertençam a uma retórica do passado.
No
dia 7 de setembro, “Dia da Independência” de nosso país, o que se viu por esse
Brasil afora foi uma quase nula ausência de público nas arquibancadas dos
desfiles, coisa inédita em outros tempos.
Lembro-me
que, quando ainda ginasianos, éramos solicitados a participar dessa festa, o
que nos enchia de orgulho. Mesmo com os pesados uniformes da época, semelhantes
às fardas militares, o nosso ufanismo vencia, em muito, o calor e o cansaço que
essas paradas representavam.
O
que se viu nesse dia no Rio de Janeiro foram desfilantes abandonando seus
postos para ajudar a polícia a combater as manifestações de rua, que permaneceram
com faixas e cartazes protestando durante a exibição bélica.
Todos
os detentores do poder sabiam que esse desfile não seria oportuno num momento
de tanta insatisfação popular, em que a exibição de armas pseudoprotetoras só
conseguiria gerar mais revolta e mais insegurança.
Prefeitos
de algumas cidades, mais lúcidos e mais cautelosos, cancelaram as paradas
cívicas, tendo em vista a real impossibilidade de sua realização por
absoluta falta de segurança.
A
ausência do Presidente da Câmara e do Senado nos desfiles em Brasília foi a
prova máxima de que a classe política vigente, nada representativa no momento,
se sente atemorizada pelo próprio povo que a elegeu.
Em
nossa quase tricentenária Cuiabá, o governador e seu vice, assim como o
prefeito, faltaram ao evento.
Jornalistas
e cinegrafistas que tentavam documentar o desfile, em várias cidades foram
agredidos e intoxicados pelas inúmeras bombas de gás lacrimogêneo que eram
atiradas a esmo, na tentativa de impedir manifestações populares, já esperadas
com grande antecedência.
Enfim,
um dia triste, com espetáculos deprimentes para um povo que não mais
aguenta a injustiça social e as práticas palacianas, tão
semelhantes às que aconteciam em Versailles, antes que o povo desse um basta.
Afinal,
presenciamos através da mídia um desfile de Nada para Ninguém.
Gabriel
Novis Neves
08-09-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.