segunda-feira, 23 de setembro de 2013

SABEDORIA DOS VELHOS

Meu avô saiu de Cuiabá para estudar medicina na Bahia na segunda metade do século XIX.
Partiu do Porto do rio Cuiabá em um pequeno vapor e, após uma semana, chegou à cidade de Corumbá.
Lá embarcou num pequeno navio nas generosas águas do rio Paraguai e foi até o Rio da Prata.
Trocou de embarcação e subiu - já em águas do Atlântico - rumo a Salvador.
Ele vivenciou um emaranhado de surpresas e novidades nesses dois meses de viagem.
Angústia? Muita. Necessidade de sucesso premente. Fracasso inaceitável.
Deixei Cuiabá em 1953 para estudar medicina no Rio de Janeiro. Peguei um  velho avião DC-3, herança da Segunda  Guerra Mundial.
Repetiu-se em mim, como num filme, a mesma angústia  que mobilizou meu avô na sua decisão rumo ao novo.
Na  minha despedida de Cuiabá ele me deu uma verdadeira aula de distâncias. Disse-me que eu viajaria para uma nova e importante etapa de vida, na qual só seria aceitável  vencer ou vencer.
Tomaria café em Cuiabá e jantaria no Rio de Janeiro, com várias pousadas e decolagens.
Lembrou-me que viagens aéreas só contavam com dois riscos, decolagem e aterrissagem.
Agora, estou a dez minutos do aeroporto do Galeão.
Não sei por que me vieram essas lembranças tão antigas, talvez Freud explique.
Olho pela janelinha e observo a natureza que tanto nos esforçamos para destruir e ela, teimosamente, resiste às nossas vis intenções.
A beleza estonteante vista de cima contrasta com a pobreza e a violência que se afigura das moradias de muitos de seus habitantes.
Nenhum gênio da pintura seria capaz de reproduzir as inúmeras e variadas telas  de tamanha grandiosidade dos acidentes geográficos dessa monumental metrópole cercada de matas, montanhas e mar.
As nuvens brancas  no azul celeste mais parecem bailarinas festejando a nossa chegada.
Dia agressivamente ensolarado prenunciava uma estada cheia de calor e surpresa.
O piloto automático, qual maestro de uma grande  orquestra dirige o jogar do mais pesado que o ar em direção ao seu “grand finale”.
Tempo do espetáculo: duas horas e vinte minutos com uma única decolagem!
Chegamos. É a tecnologia!

Gabriel Novis Neves
14 -09-2013

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