Procurei
por muito tempo um boteco que me lembrasse dos pontos de encontro da minha já
longínqua infância.
Queria
achar um espaço onde as pessoas pudessem se desligar por alguns instantes
ilusórios das misérias deste mundo egoísta e consumista, que tantos males
causam à nossa gente.
No
Morro do Tambor descobri um que me fez regredir emocionalmente aos tempos dos
botecos da Rua do Meio.
Claro
que modernizado, pois, afinal, ninguém é de ferro, muito menos em se tratando
de boteco.
A
música de excelente qualidade era eletrônica, bem diferente dos enormes discos
de vinil emitindo mais ruídos que notas musicais.
Os
enfeites de antigamente foram substituídos por fina decoração, exaltando a
nossa flora, fauna e folclore.
Os
frequentadores do boteco eram puro caldo de cultura de uma civilização
pré-colombiana, portuguesa e africana, produzindo essa gente maravilhosa que
vive aqui.
O
local do pedacinho do céu na Terra fica em um bairro que homenageia o nosso
maior e carismático poeta – Dom Aquino!
Pastelzinho
de queijo, caldo de feijão (individual) - o fino da delicadeza - coscorão,
bolinho de bacalhau, mandioca frita, quibe apimentado, coração de frango,
revirado cuiabano com farofa exclusiva da casa e a consagrada Maria Isabel.
Pessoas
alegres ao natural, dedicando dois dedos de prosa ao velho parteiro para
confidências de vidas vividas, muitas vezes sofridas.
Sem
mágoas o passado é recordado em verdadeira catarse sem cicatrizes.
Casamentos
desfeitos são tratados como troféus. Os que não foram realizados, como
caprichos do destino. Amores refeitos. Amores nascendo, pois o amor não morre,
apenas muda de endereço.
Este
boteco, tão simples, atende pelo nome do Bar do Jarbas, assim como gerações de
cuiabanos chamavam o Bar do Bugre.
Marca
da nossa cultura, em que o nome do proprietário do estabelecimento comercial
era mais forte que o registrado na Junta Comercial. Puro charme! As pessoas
eram respeitadas, amadas e admiradas.
Onde
menos esperava, em uma adaptada garagem, estava tudo que precisava para
oxigenar e renovar as minhas emoções.
Tudo
com muito respeito, como exigem as leis das pessoas simples.
Como
foi bom localizar este cantinho num antigo bairro desconhecido (felizmente)
pela elite brega!
Inicia
suas atividades, após o por do sol - repositório das surpresas do dia. Adoro e
me orgulho do meu tempo!
Eu
saí de um boteco (Bar do Bugre), mas o boteco não saiu de mim.
Gabriel
Novis Neves
06-09-2013
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.