segunda-feira, 16 de setembro de 2013

ENCONTREI!

Procurei por muito tempo um boteco que me lembrasse dos pontos de encontro da minha já longínqua infância.
Queria achar um espaço onde as pessoas pudessem se desligar por alguns instantes ilusórios das misérias deste mundo egoísta e consumista, que tantos males causam à nossa gente.
No Morro do Tambor descobri um que me fez regredir emocionalmente aos tempos dos botecos da Rua do Meio.
Claro que modernizado, pois, afinal, ninguém é de ferro, muito menos em se tratando de boteco.
A música de excelente qualidade era eletrônica, bem diferente dos enormes discos de vinil emitindo mais ruídos que notas musicais.
Os enfeites de antigamente foram substituídos por fina decoração, exaltando a nossa flora, fauna e folclore.
Os frequentadores do boteco eram puro caldo de cultura de uma civilização pré-colombiana, portuguesa e africana, produzindo essa gente maravilhosa que vive aqui.
O local do pedacinho do céu na Terra fica em um bairro que homenageia o nosso maior e carismático poeta – Dom Aquino!
Pastelzinho de queijo, caldo de feijão (individual) - o fino da delicadeza - coscorão, bolinho de bacalhau, mandioca frita, quibe apimentado, coração de frango, revirado cuiabano com farofa exclusiva da casa e a consagrada Maria Isabel.
Pessoas alegres ao natural, dedicando dois dedos de prosa ao velho parteiro para confidências de vidas vividas, muitas vezes sofridas.
Sem mágoas o passado é recordado em verdadeira catarse sem cicatrizes.
Casamentos desfeitos são tratados como troféus. Os que não foram realizados, como caprichos do destino. Amores refeitos. Amores nascendo, pois o amor não morre, apenas muda de endereço.
Este boteco, tão simples, atende pelo nome do Bar do Jarbas, assim como gerações de cuiabanos chamavam o Bar do Bugre.
Marca da nossa cultura, em que o nome do proprietário do estabelecimento comercial era mais forte que o registrado na Junta Comercial. Puro charme! As pessoas eram respeitadas, amadas e admiradas.
Onde menos esperava, em uma adaptada garagem, estava tudo que precisava para oxigenar e renovar as minhas emoções.
Tudo com muito respeito, como exigem as leis das pessoas simples.
Como foi bom localizar este cantinho num antigo bairro desconhecido (felizmente) pela elite brega!
Inicia suas atividades, após o por do sol - repositório das surpresas do dia. Adoro e me orgulho do meu tempo!
Eu saí de um boteco (Bar do Bugre), mas o boteco não saiu de mim.

Gabriel Novis Neves
06-09-2013

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