terça-feira, 3 de setembro de 2013

Esse filme não presta

O céu está cheio de pessoas bem intencionadas - e o governo também - diz o povão. 
Quando o Ministério da Educação decidiu abolir a reprovação no ensino fundamental estava, na verdade, decretando o surgimento do analfabeto educacional. 
A reprovação, no entender dos mentores desta nefasta lei, prejudicaria o desenvolvimento psicológico das crianças. 
Bem intencionados, criaram até a obrigatoriedade das escolas manterem salas especiais para a recuperação dos alunos retardatários. 
Obrigatoriedade esta, ignorada pelos governos – salvo raríssimas exceções. 
Esses alunos, após oito anos de ensino deficiente, chegam ao ensino médio sem ter alcançado a habilitação necessária – muitos, mal sabem ler o que escrevem. 
Está formado assim, o grande gargalo da nossa educação. 
São poucos os que ingressam no ensino médio. A evasão é grande. 
A criança que se recusa a ir à escola e que se evade, é a menos responsável. 
A reação da criança é de autodefesa, e retrata bem a crise que enfrenta: professor mal preparado e desestimulado, salas de aulas desapropriadas, ambiente escolar depredado, insegurança. Mas, acima de tudo, este aluno sente o seu despreparo educacional e abandona a escola, para eles, inútil. 
Para enfrentar essa situação caótica, o Ministério da Educação lançou o inovador programa de cotas nas universidades públicas, para alunos de escolas públicas cujo ensino o próprio MEC sucateou. 
A falta de compromisso por uma educação de qualidade foi substituída por uma educação quantitativa. 
Essa manobra é a confissão que a escola pública vai mal. É a oficialização do analfabetismo funcional. 
Todo esse esforço do MEC é para colocar na universidade, em cursos chamados nobres - Medicina, Direito e Engenharias -, alunos das escolas públicas. 
Os alunos provenientes da escola pública são 52% nas universidades públicas. O problema é que esses alunos não conseguem pontuação para os chamados cursos nobres. 
A cota revela o saber? Ah! Bom! 
O pior é que isso tem o nome de democratização do ensino - colocar alunos menos qualificados das escolas públicas em lugar dos alunos melhor preparados das escolas particulares. 
O ENEM é um tipo de seleção para ingresso no ensino superior, embora as vagas dos cursos nobres continuem sendo ocupadas, na maioria, por estudantes de fora do Estado, no caso de nosso Mato Grosso. 
Para os cursos com mercados saturados, os estudantes são daqui mesmo, chegando a ocupar 82% do total de vagas. 
Com esse modelo educacional saímos de um Estado Curral para sermos um Estado de analfabetos funcionais e cotistas. 
Triste situação: a educação continua não sendo prioridade nacional e a universidade perdeu a sua autonomia. 
Hoje ela vive de emendas parlamentares. E o seu deficiente orçamento é, praticamente, para pagamento de pessoal e, pouquíssimo para custeio. 
Esse filme de recuperação dos alunos das cotas, eu já vi, e não presta. Não haverá contratações de novos professores para a recuperação dos alunos carentes das cotas. 
Temo que se nivele por baixo o titubeante ensino superior brasileiro. 
Enquanto isso, os professores do ensino básico do nosso Estado  estão em greve, por melhores condições de trabalho. 

Gabriel Novis Neves
30-08-2013

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