O
editorial de um jornal da nossa capital, de 29/08/2013, aborda, com
preocupação, um tema de saúde pública tão simples de ser controlado e que no
Brasil é um dos flagelos que nos assaltam.
Na
nossa capital, por incrível que pareça, muitos postos de saúde não realiza, nas
mulheres com indicação, o exame de Papanicolau - preventivo para o câncer do
colo uterino e detector do HPV (Herpes Papiloma Vírus).
O
vírus genital apresenta cerca de cento e trinta genótipos do HPV. Os tipos dezesseis
e dezoito são os mais preocupantes. Eles têm um poder de penetração nos tecidos
do colo uterino tão grande, que atingem uma área onde se desenvolve os
processos malignos naquele órgão.
Felizmente,
dezenas desses vírus localizam-se bem superficialmente ao tecido do colo
uterino, e se perdem na mucosa vaginal sem apresentar sinais e sintomas.
O
HPV faz parte dos diagnósticos que designamos de “achaloma”, pois são
identificados durante um exame de rotina ginecológica, com solicitação
obrigatória do Papanicolau.
Hoje
existem exames laboratoriais especializados que detectam se o vírus é do tipo
penetrante ou não.
Se
penetrante, um procedimento cirúrgico simples da retirada de um pequeno cone do
colo do útero é o suficiente.
A
alta é imediata, não interfere na natalidade e a paciente está curada.
Isso
não significa a impossibilidade de uma nova contaminação, pois este vírus é
sexualmente transmissível.
O
homem portador do vírus, na maioria das vezes, não apresenta sintomas. Uma vez
contaminado é um disseminador da doença, que apresenta números alarmantes de
atingidos, devido à liberdade sexual existente e cujos jovens, principalmente,
se recusam à prevenção, que é o uso da camisinha, fartamente distribuída pelo
Ministério da Saúde.
Com
os dados sempre crescentes da doença, o Ministério da Saúde passou a fazer a
vacinação das meninas em idade precoce, antes do início da atividade sexual.
Depois de iniciada, a indicação não atinge os objetivos de proteger a mulher
contra o ataque do vírus, é muito cara, e a dose não é única.
Fiz
essa longa introdução para denunciar que o exame de Papanicolau, tão simples e
de baixíssimo custo, na cidade da Copa não é realizado em postos de saúde de
áreas nobres de Cuiabá por falta de perneiras em mesas ginecológicas, ausência
de lençol para cobrir o forro da mesa de exame e para encobrir a paciente ao se
deitar para a coleta do material do colo uterino.
A
mulher só procura os serviços do SUS por absoluta falta de opção financeira. Mas,
pobre tem pudor e dignidade.
Falta-lhe
dinheiro e poder para se tratar no hospital do pessoal de Brasília em São
Paulo.
Quando
o governo disponibiliza um serviço público de saúde, antes de tudo, deveria
pensar se seus membros e familiares gostariam de utilizar esse tipo de serviço.
Pobre
tem valores, senhores governantes!
Temos
o “privilégio de votar na urna eletrônica menos confiável do mundo”, e
condições técnicas de evitar milhares de mortes de mulheres por câncer do colo
uterino.
Faltam
condições materiais para fazer em todas as mulheres pobres, sexualmente ativas,
o exame de Papanicolau.
Enquanto
isso, os recursos da saúde escapam pelo esgoto da impunidade.
Gabriel
Novis Neves
30/08/2013
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