Recebi,
por empréstimo, o luxuoso livro comemorativo do centenário da Associação
Comercial e Empresarial de Cuiabá.
Essa
associação foi fundada no início do século vinte, mais precisamente, no dia 28
de julho de 1912.
Naquela
época a nossa capital era uma cidadezinha de menos de trinta mil habitantes e,
praticamente, isolada do mundo. A única comunicação da cidade com os grandes
centros era conseguida, com muita paciência, pelas águas do rio Cuiabá.
Poucos
estabelecimentos comerciais conseguiam sobreviver a esse isolamento.
A
inauguração de um novo empreendimento era sempre uma festa, e contava com a
participação de um grande número de pessoas.
Assim
aconteceu no dia 29 de junho de 1920. Na noite de São Pedro e São Paulo, no
barracão do único cinema da cidade, surgia o Bar Moderno, só conhecido na Junta
Comercial.
Esse
verdadeiro centro de vivência de Cuiabá foi incorporado à nossa história como o
Bar do Bugre.
Durante
meio século viveu com muita saúde e era ponto de referência histórica e
cultural na cidade de Dom Aquino Correa.
Com
o desaparecimento do seu fundador, o local passou por várias transformações e,
até hoje, é um centro comercial diversificado, inclusive com o Bar do Bugre
reciclado.
Esse
livro comemorativo pretende mostrar o papel da Associação Comercial no
“desenvolvimento de Cuiabá, de Mato Grosso e do Brasil”.
O
seu primeiro presidente foi o tenente-coronel Manoel Escolástico Virgínio, que
era intendente do município. Ficou no cargo de 1912 a 1941.
Naquela
ocasião a Associação coordenava todas as “atividades comerciais” de Cuiabá.
Em
1957, o presidente da época afirmava que “era um órgão representativo da classe
comercial de toda a zona norte do estado, tendo em vista a preservação ao
interesse, não apenas dos seus associados, mas da coletividade desta região”.
Não
encontrei na leitura do extenso livro nada além da merecida biografia dos seus
antigos e atuais dirigentes, de centenas de fotos de interesses pessoais e
citações esparsas de extintos estabelecimentos comerciais que não marcaram o
imaginário popular desta cidade.
Pequenos
detalhes não foram esquecidos, como a visita de uma Miss Cuiabá à sua sede e
audiências com políticos, que não resultaram em nada para o nosso esperado
desenvolvimento.
A
centenária Associação foi dirigida nesse seu primeiro século de existência por
militares, políticos, homens ilustres da nossa sociedade e até comerciantes.
Estranho
não haver referência ao engajamento da Associação na luta pela criação da nossa
maior indústria de conhecimento - a nossa UFMT -, implantada na década de
setenta no distrito do Coxipó da Ponte. Por que será? Será por quê?
Ainda
mais se considerarmos que essa obra, a mais importante do nosso Estado pelo seu
alcance de justiça social, foi transformada em realidade pelo apoio dos pobres,
e teve como principais executivos três filhos de pequenos comerciantes,
afastados do glamour dos poderosos.
Filhos
do dono de um bar, de um pequeno comerciante de material de construção e de um
plantador de poaia, ficavam à deriva dos palácios.
No
esquecimento do livro, também aqueles comerciantes humanistas, que até hoje
habitam a memória dos antigos desta cidade, onde o lucro nunca foi o seu
objetivo de vida.
Viveram
mais para servir aos pequenos com as suas cadernetas mensais - onde o fiado era
peça fundamental de compreensão social.
Sem
participar da criação da nossa universidade, esta, num gesto de grandeza,
convocou para representar a classe comercial na constituição do seu primeiro
Conselho Diretor, composto apenas por seis membros, um dos seus mais ilustres
quadros - o pioneiro João Celestino Correa Cardozo que, durante seis anos
emprestou toda a sua solidariedade ao projeto da mocidade cuiabana.
A
história é feita por anônimos e escrita pelos poderosos de plantão.
Por
isso, tenho pavor de receber certas homenagens, pois muitas são verdadeiros
castigos.
Gabriel
Novis Neves
01-08-2013
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