quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Irene Novis Neves

Não houvesse partido rumo ao Infinito, minha mãe estaria comemorando, no dia 02 de setembro de 2013, o centenário do seu nascimento.
Fico imaginando a sua entrada no Paraíso e o diálogo com S. Pedro (o santo da sua devoção). Em homenagem ao santo fui batizado com o nome de Pedro.
O Bar do Bugre foi inaugurado no dia 29 de junho de 1920 e, segundo Gabriel Novis Neves, recebeu na Junta Comercial de Cuiabá o nome de Bar Moderno, embora fosse sempre conhecido como o Bar do Bugre.
Era madrugada de 05 de janeiro de 2006. Todos nós chorávamos e Irene seguia cantarolando a sua melodia predileta - ‘Maracangalha’.
Na Usina do Itaicy, recanto maravilhoso situado às margens do piscoso rio Cuiabá, ela nasceu. A Usina era de propriedade de sua mãe.
Nessa ocasião, seus pais (o médico Dr. Alberto Novis e a Usineira Antonieta de Almeida Novis) regressavam de uma longa viagem pela Europa, onde foram bater às portas das maiores sumidades da medicina em Paris, na busca de tratamento especializado para contornar a surdez irreversível do meu avô, assim como uma tentativa para diagnosticar sérios problemas de saúde que colocavam em risco a vida da minha avó.
Irene teve uma infância impiedosamente marcada por inúmeras adversidades, impostas a todos os filhos de Alberto e Tutica, como era conhecida a minha avó Antonieta.
Irene não tinha completado quatro anos quando a sua mãe partiu deste mundo sem pedir licença para ir embora, deixando na orfandade oito filhos menores. Você foi a filha de número 06, por ordem de nascimento - uma escadinha de filhos nos treze anos de casados de seus pais (1904- 1917).
Sozinho e envolvido na solidão e na saudade da sua jovem esposa falecida, não restou alternativa ao seu pai senão a separação das crianças em 1917.
Minha mãe Irene foi residir no Rio de Janeiro com a sua tia e madrinha Prisciliana de Almeida Azambuja (irmã da sua mãe).
Aquilo que parecia ser um mundo de felicidades teve efêmera duração. Logo o casal Azambuja se separou e mamãe teve a segunda grande decepção - perdia a tia madrinha.
Foi então que Irene retornava definitivamente à Cuiabá para ficar em companhia da sua avó materna.
Minha mãe ainda não havia completado sete anos de idade, quando seu pai contrai novas núpcias com D. Georgina da Silva Pereira e resolve reunir todos os filhos no mesmo lar.
Estava se consumando mais uma perda, a terceira.
Irene deixou a casa da avó e veio integrar o grupo que seria criado pela madrasta.
Lembro-me que mamãe não gostava de relembrar muito a sua infância sem o aconchego da mãe verdadeira, embora gostasse muito da madrasta, que era querida por todos seus irmãos.
Em 1934, casou-se com meu pai, o comerciante Olyntho Neves, e deste casamento nasceram nove filhos - que mamãe dizia serem os seus “Noves” Neves.
Pedagoga por natureza, apesar de ter cursado apenas o primário, ajudava e acompanhava os filhos nos deveres de casa, ensinando-nos desde o português, como matemática, francês e Inglês. Jogava futebol no nosso time e torcia pelo Botafogo no Rio de Janeiro.
Sarcástica, brincalhona e muito bem humorada, Irene soube viver a sua vida de sacrifícios e de prazer. Já no fim da sua vida, sempre cantarolando e alegre, mamãe conservava aquele espírito jovem, e, embora tendo o corpo envelhecido pelo tempo, acumulava uma enorme experiência de vida e sabedoria.
Agradecemos a Deus por nos ter presenteado como mãe uma criatura maravilhosa e da qual muito nos orgulhamos. Posso até dizer, em nome dos meus irmãos, que nos sentimos privilegiados. Será que todas as mães são assim?
Tenho toda a certeza de que Irene está aguardando a chegada de seus filhos no mundo dos espíritos. A primeira a ir pra lá foi a querida Tieta.
Juntas aguardam com paz e muita tranquilidade a nossa certa chegada por lá um dia.
Não precisam ter pressa, vivo dizendo para todos.
Eu mesmo, já estive batendo a porta para entrar, mas o meu xará lá de cima finge que não escuta as minhas batidas!

Pedro Novis Neves
Economista, professor universitário e escritor
27-08-2013

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