Não
houvesse partido rumo ao Infinito, minha mãe estaria comemorando, no dia 02 de
setembro de 2013, o centenário do seu nascimento.
Fico
imaginando a sua entrada no Paraíso e o diálogo com S. Pedro (o santo da sua
devoção). Em homenagem ao santo fui batizado com o nome de Pedro.
O
Bar do Bugre foi inaugurado no dia 29 de junho de 1920 e, segundo Gabriel Novis
Neves, recebeu na Junta Comercial de Cuiabá o nome de Bar Moderno, embora fosse
sempre conhecido como o Bar do Bugre.
Era
madrugada de 05 de janeiro de 2006. Todos nós chorávamos e Irene seguia
cantarolando a sua melodia predileta - ‘Maracangalha’.
Na
Usina do Itaicy, recanto maravilhoso situado às margens do piscoso rio Cuiabá,
ela nasceu. A Usina era de propriedade de sua mãe.
Nessa
ocasião, seus pais (o médico Dr. Alberto Novis e a Usineira Antonieta de
Almeida Novis) regressavam de uma longa viagem pela Europa, onde foram bater às
portas das maiores sumidades da medicina em Paris, na busca de tratamento
especializado para contornar a surdez irreversível do meu avô, assim como uma
tentativa para diagnosticar sérios problemas de saúde que colocavam em risco a
vida da minha avó.
Irene
teve uma infância impiedosamente marcada por inúmeras adversidades, impostas a
todos os filhos de Alberto e Tutica, como era conhecida a minha avó Antonieta.
Irene
não tinha completado quatro anos quando a sua mãe partiu deste mundo sem pedir
licença para ir embora, deixando na orfandade oito filhos menores. Você foi a
filha de número 06, por ordem de nascimento - uma escadinha de filhos nos treze
anos de casados de seus pais (1904- 1917).
Sozinho
e envolvido na solidão e na saudade da sua jovem esposa falecida, não restou
alternativa ao seu pai senão a separação das crianças em 1917.
Minha
mãe Irene foi residir no Rio de Janeiro com a sua tia e madrinha Prisciliana de
Almeida Azambuja (irmã da sua mãe).
Aquilo
que parecia ser um mundo de felicidades teve efêmera duração. Logo o casal
Azambuja se separou e mamãe teve a segunda grande decepção - perdia a tia
madrinha.
Foi
então que Irene retornava definitivamente à Cuiabá para ficar em companhia da
sua avó materna.
Minha
mãe ainda não havia completado sete anos de idade, quando seu pai contrai novas
núpcias com D. Georgina da Silva Pereira e resolve reunir todos os filhos no
mesmo lar.
Estava
se consumando mais uma perda, a terceira.
Irene
deixou a casa da avó e veio integrar o grupo que seria criado pela madrasta.
Lembro-me
que mamãe não gostava de relembrar muito a sua infância sem o aconchego da mãe
verdadeira, embora gostasse muito da madrasta, que era querida por todos seus
irmãos.
Em
1934, casou-se com meu pai, o comerciante Olyntho Neves, e deste casamento
nasceram nove filhos - que mamãe dizia serem os seus “Noves” Neves.
Pedagoga
por natureza, apesar de ter cursado apenas o primário, ajudava e acompanhava os
filhos nos deveres de casa, ensinando-nos desde o português, como matemática,
francês e Inglês. Jogava futebol no nosso time e torcia pelo Botafogo no Rio de
Janeiro.
Sarcástica,
brincalhona e muito bem humorada, Irene soube viver a sua vida de sacrifícios e
de prazer. Já no fim da sua vida, sempre cantarolando e alegre, mamãe
conservava aquele espírito jovem, e, embora tendo o corpo envelhecido pelo
tempo, acumulava uma enorme experiência de vida e sabedoria.
Agradecemos
a Deus por nos ter presenteado como mãe uma criatura maravilhosa e da qual
muito nos orgulhamos. Posso até dizer, em nome dos meus irmãos, que nos
sentimos privilegiados. Será que todas as mães são assim?
Tenho
toda a certeza de que Irene está aguardando a chegada de seus filhos no mundo
dos espíritos. A primeira a ir pra lá foi a querida Tieta.
Juntas
aguardam com paz e muita tranquilidade a nossa certa chegada por lá um dia.
Não
precisam ter pressa, vivo dizendo para todos.
Eu
mesmo, já estive batendo a porta para entrar, mas o meu xará lá de cima finge
que não escuta as minhas batidas!
Pedro
Novis Neves
Economista,
professor universitário e escritor
27-08-2013
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