Qual
de nós, num mecanismo inconsciente de fuga, não desejou, pelo menos uma vez na
vida, realizar o sonho de Ícaro de voar?
Lembro-me
que quando era criança, e mesmo na adolescência, esse sonho me era muito
frequente.
Talvez
pela grande dificuldade de ultrapassar os limites da imaginação pelos quais
passam todos os jovens.
Na
minha meninice cheguei a pensar que viveria tempos em que, abolidos todos os
automóveis, usaríamos cintos voadores como meio de transporte nas grandes
cidades. O que nos permitiria chegar perto do sonho de Ícaro.
Isso
ainda não aconteceu, mas talvez não esteja longe deste fato se concretizar –
apenas não estarei mais aqui.
Enquanto
isso, as nossas viagens através dos sonhos não encontram impasses nas suas
dimensões.
Há
algum tempo, na lida diária do consultório, uma cliente gestante me relatou um
sonho que tivera e que me deixou fascinado.
Via-se
ela trafegando por tortuosas estradas coloridas semelhantes à nossa massa
cerebral, com todas as suas curvas e labirintos, tudo muito rápido e muito
vibrante.
Era
ela conduzida por uma motorista feminina em uma viatura sem portas nem janelas.
Possuía apenas a carroceria, com um confortável banco e um grande para-brisa
dianteiro, que possuía um olho mágico permitindo o deslumbramento do trajeto.
E
o que era mais interessante: apesar da grande velocidade a que era submetida,
ela não sentia medo.
Uma
verdadeira viagem sem mescalina produzida pela mente, quase ao raiar da manhã
ou talvez de uma nova vida.
Fiquei
encantado com as nossas imensas possibilidades criativas, e pensando no grande
potencial humano que ainda não consegue ser avaliado pelos nossos atuais
métodos de medidas.
A
paciente, ao contrário, indagava-me se estava precisando de tratamento
psicoterápico.
Aquietei-a,
parabenizando-a pela facilidade com que conseguia romper as “portas da
percepção”, tão falada por Aldous Huxley no seu famoso livro de igual nome.
Tudo
isso sem drogas, apenas numa fase em que a mãe natureza a preparava para a
formação de um novo ser e, com certeza, de uma nova mente.
Gabriel
Novis Neves
26-07-2013
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