As
manifestações artísticas, abrindo as portas do inconsciente, têm salvado um sem
número de pessoas através dos séculos.
No
Brasil, no fim do século passado, tivemos a grande psiquiatra Nise da Silveira,
que inaugurou nos manicômios um revolucionário método de tratamento através da
praxiterapia.
Alunos
da brilhante médica puderam comprovar o belíssimo trabalho por ela desenvolvido
através da pintura, da escultura, da música, enfim, de atividades artísticas em
pessoas até então consideradas inadequadas ao convívio social e despejadas em
lugares para isso construídos.
Com
esta prática ela conseguiu revolucionar a medicina psiquiátrica desse princípio
de século, humanizando o que outrora envergonhava a humanidade.
O
fato é que vemos agora a arte salvando de uma outra forma.
Todos
sabem que a cidade de Detroit, nos EUA, até bem pouco tempo o maior centro da
indústria automobilística americana, acaba de pedir falência, num total de
quarenta e quatro bilhões de dólares. Dívida aparentemente impagável.
Entretanto,
como em qualquer massa falida, estão sendo avaliados os ativos e os passivos da
cidade.
Por
incrível que pareça, Detroit conta com um dos mais belos museus americanos,
possuindo um acervo que inclui inúmeras obras de pintores famosos tais como
Renoir, Manet, Monet, Rembrandt, Picasso e até do nosso maior expoente, o
mestre Portinari.
A
avaliação, por alto, do montante, é equivalente a dois bilhões de dólares, já
que uma expertise especializada custaria em torno de mais ou menos duzentos mil
dólares, coisa descartada num momento de crise.
Claro
que, como antigo centro comercial forte, muitas dessas obras foram doadas por
personalidades abonadas do setor industrial da época.
O
montante a ser arrecadado não seria nem de leve suficiente para pagar a dívida
da cidade, mas, com certeza, chamou a atenção para a qualidade do acervo. Tanto
assim que o museu, visitado outrora por um total de seiscentas mil pessoas
anuais, passou a ter o dobro desse número de visitas, dada a possibilidade de
desaparecimento desse verdadeiro templo da beleza.
Foi
quando me passou pela cabeça se não seria o caso de transformar a cidade numa
Florença, ou seja, num centro de turismo artístico, levando para lá outros
museus de igual importância.
Sabemos
que esse não é bem o forte da sociedade americana, que é muito mais preocupada
com o consumo do que com o cultivo de cultura.
Terra
dos maiores parques temáticos, centros de alta tecnologia para adultos e
crianças e, por que não, um lugar destinado unicamente à cultura e todas as
suas manifestações?
Merece
uma modesta reflexão, não sei se de agrado ao deus maior, o “DEUS LUCRO”.
Gabriel
Novis Neves
16-08-2013
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