segunda-feira, 26 de agosto de 2013

A arte salva

As manifestações artísticas, abrindo as portas do inconsciente, têm salvado um sem número de pessoas através dos séculos.
No Brasil, no fim do século passado, tivemos a grande psiquiatra Nise da Silveira, que inaugurou nos manicômios um revolucionário método de tratamento através da praxiterapia.
Alunos da brilhante médica puderam comprovar o belíssimo trabalho por ela desenvolvido através da pintura, da escultura, da música, enfim, de atividades artísticas em pessoas até então consideradas inadequadas ao convívio social e despejadas em lugares para isso construídos.
Com esta prática ela conseguiu revolucionar a medicina psiquiátrica desse princípio de século, humanizando o que outrora envergonhava a humanidade.
O fato é que vemos agora a arte salvando de uma outra forma.
Todos sabem que a cidade de Detroit, nos EUA, até bem pouco tempo o maior centro da indústria automobilística americana, acaba de pedir falência, num total de quarenta e quatro bilhões de dólares. Dívida aparentemente impagável.
Entretanto, como em qualquer massa falida, estão sendo avaliados os ativos e os passivos da cidade.
Por incrível que pareça, Detroit conta com um dos mais belos museus americanos, possuindo um acervo que inclui inúmeras obras de pintores famosos tais como Renoir, Manet, Monet, Rembrandt, Picasso e até do nosso maior expoente, o mestre Portinari.
A avaliação, por alto, do montante, é equivalente a dois bilhões de dólares, já que uma expertise especializada custaria em torno de mais ou menos duzentos mil dólares, coisa descartada num momento de crise.
Claro que, como antigo centro comercial forte, muitas dessas obras foram doadas por personalidades abonadas do setor industrial da época.
O montante a ser arrecadado não seria nem de leve suficiente para pagar a dívida da cidade, mas, com certeza, chamou a atenção para a qualidade do acervo. Tanto assim que o museu, visitado outrora por um total de seiscentas mil pessoas anuais, passou a ter o dobro desse número de visitas, dada a possibilidade de desaparecimento desse verdadeiro templo da beleza.
Foi quando me passou pela cabeça se não seria o caso de transformar a cidade numa Florença, ou seja, num centro de turismo artístico, levando para lá outros museus de igual importância.
Sabemos que esse não é bem o forte da sociedade americana, que é muito mais preocupada com o consumo do que com o cultivo de cultura.
Terra dos maiores parques temáticos, centros de alta tecnologia para adultos e crianças e, por que não, um lugar destinado unicamente à cultura e todas as suas manifestações?
Merece uma modesta reflexão, não sei se de agrado ao deus maior, o “DEUS LUCRO”.

Gabriel Novis Neves
16-08-2013

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