quarta-feira, 14 de agosto de 2013

PHOTOSHOP

Todos reconhecem a espantosa evolução da tecnologia.
Há meses ganhei um iPad; era praticamente o lançamento desse computador, que funciona com bateria e mais parece uma capa de livro.
Pois bem. Acaba de ser colocada no mercado a sua nova versão, mais parecido a uma folha de papel.
Mas, ainda temos muito a avançar nesse infinito mundo de conquistas tecnológicas.
Na área de imagens temos a possibilidade de enfrentar uma câmera fotográfica e sair sempre com resultados surpreendentemente perfeitos.
Recentemente minha filha me convenceu a acompanhá-la a um estúdio fotográfico. Estava organizando um álbum de família e precisava de uma foto minha atualizada, e feita por profissional.
Disse-me que as fotos receberiam tratamento de photoshop - aquela foto que consegue fazer todo mundo bonito. Não dei muita atenção a esse fato.
Dias depois ela me mostrou o álbum, e eu lhe perguntei: “e a minha foto”?
Aos risos ela me apontou aquele que dizia ser eu: estava sem rugas, papadas, bolsas nos olhos. Enfim, sem aquele olhar de alguém muito rodado, com sinais visíveis do tempo estampado no rosto, marcas da minha história de vida.
Ela me sorriu com ar maroto e exclamou: “é a tecnologia, pai!”
Mal sabia a minha filhinha que eu já tinha passado por situação idêntica, só que ao contrário.
Saí de Cuiabá para estudar Medicina antes de completar 18 anos. Precisava de uma carteira de identidade. Procurei o lambe-lambe que atendia na Praça da República, em frente à Catedral.
Levei as fotos na então Delegacia de Polícia e no outro dia recebi um livrinho, com os meus dados pessoais, impressão digital e a foto.
Não percebi nada de anormal na foto, pois, naquela época, a qualidade era assim mesma – péssima. Tão pouco prestei atenção nos dados. Minha única preocupação foi a de conferir a minha assinatura, que estava correta.
No Rio, meu pai me avisa, via mamãe, por carta, que o Banco do Brasil estava preparado para a minha primeira visita: eu iria sacar os cruzeiros contadinhos da minha mesada.
Vou ao banco. No balcão do caixa entrego a minha carteira de identidade e fico esperando o dinheiro.
Percebo que a minha carteira começa a passar de mesa em mesa, e que, à distância, quando o funcionário examinava o meu livrinho olhava para mim.
Entendi que algo de anormal estava acontecendo. O gerente então vem até o balcão e me diz que estava com uma ordem de pagamento em meu nome, mas que infelizmente, aquela carteira não era minha!
Mostrou-me as contradições: “você está branquelão - com certeza de tanto estudar para o vestibular -, mas na carteira consta que a sua cor é parda, além do mais, a foto mostra um ralo bigode, e você nem pelos tem no lábio superior, e aqui vejo um jovem imberbe”.
Saí do banco sem a minha mesada, por falhas tecnológicas.
Os avanços tecnológicos na Medicina, especialmente nos diagnósticos por imagens, são surpreendentes.
Hoje você consegue imagens até dos pensamentos.
Mas gostaria que houvesse também a possibilidade de se aplicar o uso do photoshop, amplamente utilizado no maior órgão do corpo humano, que é a pele, nos órgãos internos.
Como seria bom um photoshop no meu sistema nervoso central, onde tudo acontece nas incontáveis sinapses responsáveis pela exteriorização dos nossos sentimentos.
Concomitantemente, o photoshop do meu sistema cárdio vascular.
Seria a glória!

Gabriel Novis Neves
05-08-2013

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