quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Veia bailarina


Há tempos estava no aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro quando, ao passar por uma livraria, minha atenção foi desviada para um livro do Ignácio de Loyola Brandão.
O título transmitia poesia de um ambiente que eu frequentava, e que nunca fui despertado para esse lado romântico e poético.
O autor do livro conta com detalhes o descobrimento da sua doença até a chegada ao centro cirúrgico. Fala sobre “a dor, o medo, das nossas perdas de cada dia, as do varejo e aquelas acumuladas ao longo da vida, no atacado”.
Loyola chegou consciente ao centro cirúrgico, de acordo com os padrões para esse tipo de cirurgia. Após acordar certa manhã com tonteiras, até o diagnóstico final de aneurisma cerebral, com indicação cirúrgica e decisão de submeter-se a abertura do crânio, percorreu um longo caminho de sofrimentos.
De olhos fechados, esforçando-se para ouvir e não esquecer nada do que se passava no centro cirúrgico, percebeu quando uma enfermeira colocou o garrote em seu braço para a punção da veia necessária durante a cirurgia e para o pós-operatório imediato.
A partir desse momento essa veia iria se transformar na sua segurança.
A experiente enfermeira, após algumas tentativas frustradas, pede auxílio a uma colega. 
Ao assumir o comando da ‘operação pega a veia’, fala em voz bem baixinha, mas percebida por Loyola: “- Ah! Está é a famosa veia bailarina!”.
O escritor se encanta com a expressão desconhecida por ele. Procurou memorizá-la para quando voltasse - se voltasse - da cirurgia, escrever um livro com esse título: “A veia bailarina”.
Loyola confessou depois da sua alta e sucesso da operação, que jamais poderia imaginar que num centro cirúrgico existisse a possibilidade de se fazer poesia.
Dias atrás aconteceu comigo algo semelhante.
Estava em uma clínica esperando ser chamado para fazer uma infiltração medicamentosa em meu joelho arreado pelo peso dos anos, quando um jovem me aborda pelo nome e começamos uma conversa.
O papo escorria, enquanto, ansioso, temia pela dor do procedimento médico, que só existia na minha imaginação.
Antes que me chamassem, coloquei a minha mão no ombro do até então desconhecido e, com a senha da minha idade, pedi que ele me dissesse quem era.
Descoberto, disse que conhecia toda a sua árvore genealógica e que, com um pouquinho de esforço, poderíamos até ser considerados parentes, pois ele tinha um tio que também era meu.
Bem educado, perguntou-me se eu aceitaria o seu último livro publicado.
Claro que aceitei! Abraçado ao meu presente entrei na sala de infiltração. “Templos Secretos – história e arquitetura sagrada das igrejas neogóticas de Mato Grosso.” – este título do livro me conquistou de imediato.
O autor é Alex de Matos, arquiteto com pós-graduação e autor de outros cinco livros publicados.
Estou devorando “Templos Secretos”, que conta a história das Igrejas do Bom Despacho, Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, a Catedral de Cáceres, entre outras.
Loyola encontrou poesia no centro cirúrgico, eu a encontrei no ambulatório de uma clínica de ortopedia e traumatologia. 
A poesia somos nós. Ela está em todos os lugares. Precisamos apenas estar preparados para reconhecê-la.
“Templos Secretos” é uma deliciosa viagem poético-cultural pelas nossas Igrejas góticas.

Gabriel Novis Neves
25-08-2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.