Há
tempos estava no aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro quando, ao passar por
uma livraria, minha atenção foi desviada para um livro do Ignácio de Loyola
Brandão.
O
título transmitia poesia de um ambiente que eu frequentava, e que nunca fui
despertado para esse lado romântico e poético.
O
autor do livro conta com detalhes o descobrimento da sua doença até a chegada
ao centro cirúrgico. Fala sobre “a dor, o medo, das nossas perdas de cada dia,
as do varejo e aquelas acumuladas ao longo da vida, no atacado”.
Loyola
chegou consciente ao centro cirúrgico, de acordo com os padrões para esse tipo
de cirurgia. Após acordar certa manhã com tonteiras, até o diagnóstico final de
aneurisma cerebral, com indicação cirúrgica e decisão de submeter-se a abertura
do crânio, percorreu um longo caminho de sofrimentos.
De
olhos fechados, esforçando-se para ouvir e não esquecer nada do que se passava
no centro cirúrgico, percebeu quando uma enfermeira colocou o garrote em seu
braço para a punção da veia necessária durante a cirurgia e para o
pós-operatório imediato.
A
partir desse momento essa veia iria se transformar na sua segurança.
A
experiente enfermeira, após algumas tentativas frustradas, pede auxílio a uma
colega.
Ao
assumir o comando da ‘operação pega a veia’, fala em voz bem baixinha, mas
percebida por Loyola: “- Ah! Está é a famosa veia bailarina!”.
O
escritor se encanta com a expressão desconhecida por ele. Procurou memorizá-la
para quando voltasse - se voltasse - da cirurgia, escrever um livro com esse
título: “A veia bailarina”.
Loyola
confessou depois da sua alta e sucesso da operação, que jamais poderia imaginar
que num centro cirúrgico existisse a possibilidade de se fazer poesia.
Dias
atrás aconteceu comigo algo semelhante.
Estava
em uma clínica esperando ser chamado para fazer uma infiltração medicamentosa
em meu joelho arreado pelo peso dos anos, quando um jovem me aborda pelo nome e
começamos uma conversa.
O
papo escorria, enquanto, ansioso, temia pela dor do procedimento médico, que só
existia na minha imaginação.
Antes
que me chamassem, coloquei a minha mão no ombro do até então desconhecido e,
com a senha da minha idade, pedi que ele me dissesse quem era.
Descoberto,
disse que conhecia toda a sua árvore genealógica e que, com um pouquinho de
esforço, poderíamos até ser considerados parentes, pois ele tinha um tio que
também era meu.
Bem
educado, perguntou-me se eu aceitaria o seu último livro publicado.
Claro
que aceitei! Abraçado ao meu presente entrei na sala de infiltração. “Templos
Secretos – história e arquitetura sagrada das igrejas neogóticas de Mato
Grosso.” – este título do livro me conquistou de imediato.
O
autor é Alex de Matos, arquiteto com pós-graduação e autor de outros cinco
livros publicados.
Estou
devorando “Templos Secretos”, que conta a história das Igrejas do Bom Despacho,
Nossa Senhora Aparecida em Cuiabá, a Catedral de Cáceres, entre outras.
Loyola
encontrou poesia no centro cirúrgico, eu a encontrei no ambulatório de uma
clínica de ortopedia e traumatologia.
A
poesia somos nós. Ela está em todos os lugares. Precisamos apenas estar
preparados para reconhecê-la.
“Templos
Secretos” é uma deliciosa viagem poético-cultural pelas nossas Igrejas góticas.
Gabriel Novis Neves
25-08-2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.