quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Uruca


Quando um projeto encontra uma pedra no caminho, como no poema de Carlos Drummond de Andrade, em cuiabanês dizemos que está com uruca, diminutivo de urucubaca.
Cuiabá está tão cheia de urucas que os seus moradores nem se importam mais com elas.
Uma das mais jovens delas está completando dez anos de vida. Após ter nascida como Hospital Neurológico, mudou para Hospital das Clínicas e, finalmente, teve a sua inauguração anunciada como Hospital Infantil por governadores e prefeito.
Como compromisso de campanha eleitoral foi matéria obrigatória de todos os candidatos, de senador a vereador.
Vice e suplentes não têm compromissos com o eleitor, e sim, com o cabeça de chapa.
No início deste ano, o governador anunciou que em julho estaria funcionando em Cuiabá o tão necessário Hospital Infantil, referência de alta complexidade para todo o Estado.
Acontece que os recursos próprios do Estado, praticamente, estão todos comprometidos com o pagamento da folha de pessoal e com as obras da Copa.
Imaginava o governador que seria fácil levantar junto ao Ministério da Saúde - ainda mais com o apoio do seu partido e da nossa prestigiada bancada federal - o dinheiro necessário para o funcionamento da nossa prioridade, que é atender as crianças de todo o nosso território.
Como acontece nos governos que administram de cima para baixo, e chamam esse método de ‘gestão participativa’, o recurso disponível era para investir em um Hospital de Transplante de Órgãos.
O governador foi colocado em uma sinuca de bico. Não tinha como cumprir com a palavra empenhada de entregar, funcionando em julho, o projeto que o consagraria na área social.
Se não aceitasse os recursos parcelados para o futuro, e coloca futuro nisso, para o Hospital de Transplantes, daria chances a oposição de criticá-lo, dizendo que rejeitou recursos federais para a nossa combalida saúde públicas.
Para tapar o sol com a peneira, determinou que se fizesse, a toque de caixa, uma Audiência Pública, ou inutilidade pública, para discutir a implantação do Hospital Infantil, agora nos escombros do abandonado Hospital das Clínicas no CPA.
O investimento seria realizado em parceria com a iniciativa privada.
Os presentes à Audiência protestaram, com toda a razão. Sabemos que o governo do Estado está com os cofres do tesouro vazios, e esse esqueleto de hospital tem problemas jurídicos que exigem longo tempo para a sua liberação.
O Hospital Infantil, mais uma vez, servirá de bandeira aos demagogos candidatos das próximas eleições.
Daquele mato no CPA, não sai coelho.
Quanto ao futuro hospital de transplantes de Cuiabá, não ficou claro na ‘doação’ do Ministério da Saúde, com quem ficará a gestão.
O Estado não suporta o custeio desse hospital de alta complexidade, cuja folha de pagamento com pessoal é alta.
Com toda certeza alguma organização Social de Saúde já foi convidada a tocar esse serviço.
O governo federal fez um ótimo negócio, com o aval do governo de Mato Grosso. Atendeu à indústria de equipamentos hospitalares, livrou-se de um projeto de grande investimento e agradou às OSSs.
Sou favorável, por prioridade, ao funcionamento de um Hospital Infantil. Lembro aos leigos que internação de crianças no nosso Estado há muito não é feita pela Central de Regulação.
O caminho é a Justiça, só que agora, devido à ausência do Estado e o saturamento de vagas na rede privada, nem Mandado Judicial é cumprido, e crianças morrem no Estado da Copa por falta de atendimento.
Está provado que no Brasil não existe planejamento e, tampouco, prioridades.
O que vale é o oportunismo administrativo irresponsável.
Ficaremos ainda um bom tempo na fila de espera para conseguirmos um Hospital Infantil e de Transplantes funcionando.
Tem uruca aí!

Gabriel Novis Neves
24-09-2012

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