Quando um projeto encontra
uma pedra no caminho, como no poema de Carlos Drummond de Andrade, em cuiabanês
dizemos que está com uruca, diminutivo de urucubaca.
Cuiabá está tão cheia de
urucas que os seus moradores nem se importam mais com elas.
Uma das mais jovens delas
está completando dez anos de vida. Após ter nascida como Hospital Neurológico,
mudou para Hospital das Clínicas e, finalmente, teve a sua inauguração
anunciada como Hospital Infantil por governadores e prefeito.
Como compromisso de
campanha eleitoral foi matéria obrigatória de todos os candidatos, de senador a
vereador.
Vice e suplentes não têm
compromissos com o eleitor, e sim, com o cabeça de chapa.
No início deste ano, o
governador anunciou que em julho estaria funcionando em Cuiabá o tão necessário
Hospital Infantil, referência de alta complexidade para todo o Estado.
Acontece que os recursos
próprios do Estado, praticamente, estão todos comprometidos com o pagamento da
folha de pessoal e com as obras da Copa.
Imaginava o governador que
seria fácil levantar junto ao Ministério da Saúde - ainda mais com o apoio do
seu partido e da nossa prestigiada bancada federal - o dinheiro necessário para
o funcionamento da nossa prioridade, que é atender as crianças de todo o nosso
território.
Como acontece nos governos
que administram de cima para baixo, e chamam esse método de ‘gestão
participativa’, o recurso disponível era para investir em um Hospital de
Transplante de Órgãos.
O governador foi colocado
em uma sinuca de bico. Não tinha como cumprir com a palavra empenhada de
entregar, funcionando em julho, o projeto que o consagraria na área social.
Se não aceitasse os
recursos parcelados para o futuro, e coloca futuro nisso, para o Hospital de
Transplantes, daria chances a oposição de criticá-lo, dizendo que rejeitou
recursos federais para a nossa combalida saúde públicas.
Para tapar o sol com a
peneira, determinou que se fizesse, a toque de caixa, uma Audiência Pública, ou
inutilidade pública, para discutir a implantação do Hospital Infantil, agora
nos escombros do abandonado Hospital das Clínicas no CPA.
O investimento seria
realizado em parceria com a iniciativa privada.
Os presentes à Audiência
protestaram, com toda a razão. Sabemos que o governo do Estado está com os
cofres do tesouro vazios, e esse esqueleto de hospital tem problemas jurídicos
que exigem longo tempo para a sua liberação.
O Hospital Infantil, mais
uma vez, servirá de bandeira aos demagogos candidatos das próximas eleições.
Daquele mato no CPA, não
sai coelho.
Quanto ao futuro hospital
de transplantes de Cuiabá, não ficou claro na ‘doação’ do Ministério da Saúde,
com quem ficará a gestão.
O Estado não suporta o
custeio desse hospital de alta complexidade, cuja folha de pagamento com
pessoal é alta.
Com toda certeza alguma organização
Social de Saúde já foi convidada a tocar esse serviço.
O governo federal fez um
ótimo negócio, com o aval do governo de Mato Grosso. Atendeu à indústria de
equipamentos hospitalares, livrou-se de um projeto de grande investimento e
agradou às OSSs.
Sou favorável, por
prioridade, ao funcionamento de um Hospital Infantil. Lembro aos leigos que
internação de crianças no nosso Estado há muito não é feita pela Central de
Regulação.
O caminho é a Justiça, só
que agora, devido à ausência do Estado e o saturamento de vagas na rede
privada, nem Mandado Judicial é cumprido, e crianças morrem no Estado da Copa
por falta de atendimento.
Está provado que no Brasil
não existe planejamento e, tampouco, prioridades.
O que vale é o oportunismo
administrativo irresponsável.
Ficaremos ainda um bom
tempo na fila de espera para conseguirmos um Hospital Infantil e de
Transplantes funcionando.
Tem uruca aí!
Gabriel Novis Neves
24-09-2012
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