É
comum falar bem dos mortos. Não é o meu caso nesta homenagem que presto a um
homem de bem. Militar por formação foi o mais civil dos civis.
Estudioso
dos problemas brasileiros conhecia como poucos os desafios da ocupação racional
da Amazônia. Somente um intelectual poderia comandar a abertura da estrada
Cuiabá/Santarém no início dos anos setenta.
Meirelles
sabia dos desafios que iria encontrar e como vencê-los, não pela força, e sim,
pelo humanismo.
O
maior deles talvez tenha sido o encontro com os guerreiros ‘índios gigantes’,
até então sem nenhum contato com o homem branco. A nova estrada cortava o
território ocupado há séculos por essa civilização.
Com
o auxílio dos irmãos Villas Bôas, Meirelles, pacificamente, consegue
transferi-los para o Parque do Xingu.
Outro
grande problema enfrentado na abertura da estrada foi com os ataques do
mosquitinho da malária, que deixou muitas baixas no grupo dos pioneiros.
Graças
à criatividade do Meirelles, ele conseguiu, com abertura de clareiras e com o
caminhão banheiro, impedir que os seus comandados fossem ao entardecer tomar
banho no rio, logradouro predileto dos ataques dos mosquitos.
O
mosquito da malária possui autonomia de voo de apenas cinquenta metros e, com
essa estratégia, Meirelles impediu que muitas vidas fossem sacrificadas.
Certa
ocasião eu conversei com o topógrafo da Cuiabá/Santarém em Alta Floresta.
Maravilhado ouvia o herói anônimo dizer que o seu maior inimigo foi a solidão.
Isso
terminou quando encontrou em uma lagoa um jacaré. Alimentava-o todo dia no
mesmo horário e, com isso, ficou amigo do animal, o que o ajudou a esquecer do
número de malárias que contraiu no árduo trabalho da abertura da estrada.
Disse-me
que realizou esse trabalho pela imensa admiração que tinha pelo coronel.
Meirelles
fez uma campanha e conseguiu um milhão de mudas de mangueira para arborizar as
laterais da rodovia.
Espiritualista,
com vários trabalhos publicados, acreditava na felicidade propiciada pelas
mangueiras com os seus frutos e sombra.
Imaginava
o caminhoneiro descansando debaixo das mangueiras adquirindo energias para
chegar ao porto de Santarém.
Coronel
Meirelles discutia muito a proposta da Universidade Federal de Mato Grosso
(UFMT) sobre a ocupação da Amazônia.
Quando
Humboldt surgiu em plena floresta amazônica mato-grossense, tínhamos
divergências de logística apenas. A UFMT optou pela conquista aérea na
construção do núcleo pioneiro. Meirelles tinha como estratégia a rodovia.
Era
um cérebro universitário, e a relação do 9º BEC com a UFMT eram as mais
saudáveis possíveis, além de vizinhos.
Sempre
foi um socialista convicto, muito à frente do seu tempo.
Garantiu
a liberdade de imprensa em Cuiabá, em um período difícil.
Imaginava
trabalhar com a sociedade civil organizada.
Queria
implantar em Cuiabá, quando prefeito, o orçamento participativo e uma
administração voltada aos mais pobres.
Foi
derrotado pelos falsos socialistas, fisiologistas e oportunistas.
Representava
a oportunidade democrática de governar com as associações de moradores dos
bairros, comunidades de base e descentralização do poder.
Pelo
seu gesto, nunca foi perdoado pelos profissionais da política.
Abandonado
par parte do povo e políticos, com dignidade, sem concessões aos seus
princípios, continuou a servir ao Estado que escolheu para viver e morrer.
Ético,
honrado, Meirelles é um exemplo para todos, especialmente para os políticos.
Embora
tenha exercido inúmeros cargos importantes, inclusive o de prefeito de Cuiabá,
morreu pobre. Esse legado republicano de bem cuidar das coisas públicas, talvez
tenha sido a sua maior obra.
Para
a sua enorme família, a invulnerabilidade do seu caráter e a sua permanente
preocupação com os pobres.
Gabriel Novis Neves
31-08-2012
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