domingo, 20 de fevereiro de 2011

TRAÍRA

A traíra é um peixe carnívoro de água doce.

É um dos peixes mais populares do Brasil.

Deve-se ter cuidado ao manipulá-la viva, pois costuma dar mordidas muito dolorosas e que sangram abundantemente.

Uma das características dessa espécie é o uso da emboscada para caçar.

Geralmente, a traíra fica escondida entre as plantas aquáticas, à espera de uma vítima imprudente para atacar.

Por esse comportamento traiçoeiro, o nome traíra é popularmente utilizado no Brasil para definir pessoas desleais, falsas, imorais e covardes, que agem em surdina para prejudicar alguém.

É o conhecido traidor.

Acho que a maioria das pessoas já foi agraciada com uma traíra na sua vida.

Eu já.

Já fui vitima inúmeras vezes dessa espécie, e no meu próprio habitat.

O traidor é sempre um cara de pau!

Certa feita caminhava eu na difícil estrada da construção pela ética e pela medicina humanística, quando fui atacado por uma traíra.

Naquela época, não tinha tempo para questões menores, como política médica visando ocupação de cargos bem remunerados.

Mas, a minha traíra sim.

Sempre traindo, essa traíra do pequeno riacho, conseguiu chegar à direção máxima nos serviços por onde passou.

O seu longo período foi marcado pela má gestão. Não conseguiu permanecer eternamente nesses postos diferenciados de trabalho burocrático.

Tal qual a traíra peixe, o homem-traíra é indigesto – possui muitos espinhos.

Recebeu dos seus colegas o valoroso troféu de traíra, o máximo que um traidor pode almejar na carreira.

Nem com lixa de aço as marcas da traição desapareceram.

Enfraquecido, não conseguiu indicar o seu sucessor.

No ostracismo, procurou uma garupa política segura, mas o seu cavalo perdeu a corrida nos últimos cem metros.

Como todo esperto peixe de água doce desapareceu nas profundidades do rio, deixando o esquecimento vencer os seus temores, para uma absolvição.

Nos momentos difíceis, de mim sempre recebeu uma palavra de conforto.

Pois bem.

Essa traíra costumava frequentar a minha intimidade caseira.

Um dia, após abarrotar a barriga com pastéis fritos na hora e esvaziar várias latinhas da redondinha, se despediu entre sorrisos e abraços – horas depois me traiu.

Assim vive a traíra. De traições em traições.

Portanto, fiquem alertas!

Ao entrar em um rio, cuidado com o que escondem as plantas!

Gabriel Novis Neves

10/02/2011

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