sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Pergunta na padaria

Um amigo da padaria, sócio convidado do Clube dos Fuxiqueiros, me fez uma pergunta à queima-roupa, quando estava na fila para comprar pães.

- Em sua opinião, qual ou quais as construções mais lindas, suntuosas, deslumbrantes e caríssimas da nossa cidade?

A minha resposta não foi imediata. Pela opção de viver enclausurado, solicitei alguns detalhes que atendessem à curiosidade do madrugador.

- Pode ser casa, mansão, edifício de apartamentos, restaurante, boate, clube, hospital, estádio de futebol (mesmo em projeto), escola, prédio de repartição pública?

A resposta veio antes do ponto de interrogação:

- Sim! Qualquer construção realizada com o dinheiro público.

Ficou fácil a resposta. Às vezes sou obrigado a resolver certos problemas em repartições públicas. Quando me deparo com o edifício desses abrigos de funcionários públicos, penso que estou em Dubai!

Luxo, ostentação, gosto ornamental duvidoso e cheiro do nosso dinheiro.

- São os prédios públicos! - finalmente respondi ao já nervoso interpelador.

Ele me abraça por ter acertado a resposta e confessa que, das mais de cinco mil entrevistas realizadas por ele, a minha resposta foi a mais demorada. Todos os outros consultados responderam de bate-pronto: prédios públicos.

Não contente com o sucesso da sua pesquisa, encerrada com a minha resposta, ainda me provocou.

Sabendo do meu fanatismo pela saúde pública, tendo dedicado toda a minha vida a preparar gente para o exercício profissional em saúde, principalmente;

Tendo participado da implantação dos dois cursos de Medicina de Cuiabá e criado cursos na área da saúde;

Com participação no governo do Estado, onde fui diretor de um hospital e por dois períodos secretário de Saúde;

Com mais de meio século exercendo a profissão de médico, e professor aposentado de medicina pela UFMT;

A maldade da pergunta:

- Com o dinheiro do luxo dessas construções, você construiria quantos hospitais no Estado?

Volto para casa com os pães e pensando em como maltratamos os pobres, utilizando o seu nome.

Pobre cidade pobre, que humilha, com os seus prédios, os humildes.

Quantos hospitais não construídos se refletem nas vestimentas de blindex dos nossos prédios públicos.


Gabriel Novis Neves

01-02-2011

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