quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

PERDAS INTERNACIONAIS

O engenheiro Leonel de Moura Brizola cunhou uma frase elegantérrima para mostrar à nação brasileira a roubalheira do dinheiro público por aqui: “perdas internacionais.”

Durante anos o velho líder, compulsoriamente, nos seus pronunciamentos, jamais se esquecia de fazer referência às tais perdas internacionais!

O gaúcho de sangue quente - adotado pelos cariocas - acreditava que, se pelo menos a roubalheira diminuísse, a maioria dos nossos problemas desapareceria.

Essa grana habitava as inúmeras ilhas paradisíacas, que logo receberam da nossa gente o carinhoso apelido de paraísos fiscais. Grande parte do nosso PIB (Produto Interno Bruto) repousava em suas “calientes” praias.

Como toda a ação produz uma reação, o doutor Brizola foi ridicularizado pela grande mídia - financiada por essa gente dos negócios em paraísos fiscais.

Brizola deixa o palco político brasileiro para entrar na história deste país.

Mas a roubalheira continua. Mudaram a expressão “perdas Internacionais” para “custo Brasil!”

Tudo que é necessário ao desempenho administrativo-funcional do governo sofre um bárbaro acréscimo nos seus custos.

Não existe uma tabela fixa para se avaliar esse valor. Mesmo com a inflação sob controle, essa “taxa” varia de vinte a cinquenta por cento do valor da compra ou obra executada: é o valor atual do Custo Brasil.

Também pudera! Tem tanta gente envolvida no trajeto desse dinheiro que, por enquanto, o preço é esse.

O fenômeno é brasileiro, e afeta todo o seu território governamental.

Mesmo por aqui, somos diariamente surpreendidos com o Custo Brasil.

O exemplo mais emblemático de que pertencemos a um regime político federativo foi o caso da maior compra de máquinas pelo Estado, que insiste em não sair da mídia tão cedo - com a sua bela ilustração fotográfica.

Genial a ideia de quem bolou o cenário das máquinas alinhadas, e as suas garras levantadas, para a fotografia do pessoal!

Dizem que existem integrantes da foto histórica oferecendo fortunas para “essa” imagem desaparecer.

Essa introdução foi apenas para dizer que nasci e cresci no agora chamado “Centro Histórico de Cuiabá.”

Naquela época era o lugar onde tudo acontecia.

A gente nascia, estudava, namorava, casava, ia à missa, ao comércio, visitava os amigos, se divertia e morria ali.

Com o tal do progresso, as pessoas começaram a procurar locais mais sossegados para viver, e as suas residências, pouco a pouco, foram transformadas em comércio.

As cadeiras nas calçadas, à noite, foram substituídas pelos portões fechados das lojas comerciais.

Quando completaram a destruição do centro de Cuiabá, surgiu um duvidoso aparato de modernidade.

Alguém deve ter se arrependido tardiamente pelo crime histórico-cultural cometido contra a nossa querida ex-Cidade Verde.

O DNA destruído da nossa cidadania ressurgiu com o pomposo título de Centro Histórico de Cuiabá!

No seu túmulo, a inscrição: “Tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional.”

Assisti pela TV a um documentário sobre os escombros do “Centro Histórico”.

Autoridades ligadas à preservação da nossa cultura e patrimônio posavam tranquilamente diante das fortes imagens da destruição.

Afirmaram que está tudo conforme o planejado. Como sempre, terceirizaram o crime.

Agora, uma boa notícia. Este ano, constam no orçamento do Estado recursos financeiros para a reconstrução daquilo que não pode mais ser reconstruído.

Pasmem! Valor desses recursos: inferior ao que é gasto por mês em combustível pelos nossos representantes! Só faltou dizer que, embutida, estava a taxa do Custo Brasil.

O nosso “Centro Histórico” não será reconstruído. Vai faltar dinheiro, por conta das tais das perdas internacionais.


Gabriel Novis Neves

23-01-2011

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