O engenheiro Leonel de Moura Brizola cunhou uma frase elegantérrima para mostrar à nação brasileira a roubalheira do dinheiro público por aqui: “perdas internacionais.”
Durante anos o velho líder, compulsoriamente, nos seus pronunciamentos, jamais se esquecia de fazer referência às tais perdas internacionais!
O gaúcho de sangue quente - adotado pelos cariocas - acreditava que, se pelo menos a roubalheira diminuísse, a maioria dos nossos problemas desapareceria.
Essa grana habitava as inúmeras ilhas paradisíacas, que logo receberam da nossa gente o carinhoso apelido de paraísos fiscais. Grande parte do nosso PIB (Produto Interno Bruto) repousava em suas “calientes” praias.
Como toda a ação produz uma reação, o doutor Brizola foi ridicularizado pela grande mídia - financiada por essa gente dos negócios em paraísos fiscais.
Brizola deixa o palco político brasileiro para entrar na história deste país.
Mas a roubalheira continua. Mudaram a expressão “perdas Internacionais” para “custo Brasil!”
Tudo que é necessário ao desempenho administrativo-funcional do governo sofre um bárbaro acréscimo nos seus custos.
Não existe uma tabela fixa para se avaliar esse valor. Mesmo com a inflação sob controle, essa “taxa” varia de vinte a cinquenta por cento do valor da compra ou obra executada: é o valor atual do Custo Brasil.
Também pudera! Tem tanta gente envolvida no trajeto desse dinheiro que, por enquanto, o preço é esse.
O fenômeno é brasileiro, e afeta todo o seu território governamental.
Mesmo por aqui, somos diariamente surpreendidos com o Custo Brasil.
O exemplo mais emblemático de que pertencemos a um regime político federativo foi o caso da maior compra de máquinas pelo Estado, que insiste em não sair da mídia tão cedo - com a sua bela ilustração fotográfica.
Genial a ideia de quem bolou o cenário das máquinas alinhadas, e as suas garras levantadas, para a fotografia do pessoal!
Dizem que existem integrantes da foto histórica oferecendo fortunas para “essa” imagem desaparecer.
Essa introdução foi apenas para dizer que nasci e cresci no agora chamado “Centro Histórico de Cuiabá.”
Naquela época era o lugar onde tudo acontecia.
A gente nascia, estudava, namorava, casava, ia à missa, ao comércio, visitava os amigos, se divertia e morria ali.
Com o tal do progresso, as pessoas começaram a procurar locais mais sossegados para viver, e as suas residências, pouco a pouco, foram transformadas em comércio.
As cadeiras nas calçadas, à noite, foram substituídas pelos portões fechados das lojas comerciais.
Quando completaram a destruição do centro de Cuiabá, surgiu um duvidoso aparato de modernidade.
Alguém deve ter se arrependido tardiamente pelo crime histórico-cultural cometido contra a nossa querida ex-Cidade Verde.
O DNA destruído da nossa cidadania ressurgiu com o pomposo título de Centro Histórico de Cuiabá!
No seu túmulo, a inscrição: “Tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional.”
Assisti pela TV a um documentário sobre os escombros do “Centro Histórico”.
Autoridades ligadas à preservação da nossa cultura e patrimônio posavam tranquilamente diante das fortes imagens da destruição.
Afirmaram que está tudo conforme o planejado. Como sempre, terceirizaram o crime.
Agora, uma boa notícia. Este ano, constam no orçamento do Estado recursos financeiros para a reconstrução daquilo que não pode mais ser reconstruído.
Pasmem! Valor desses recursos: inferior ao que é gasto por mês em combustível pelos nossos representantes! Só faltou dizer que, embutida, estava a taxa do Custo Brasil.
O nosso “Centro Histórico” não será reconstruído. Vai faltar dinheiro, por conta das tais das perdas internacionais.
Gabriel Novis Neves
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