sábado, 19 de fevereiro de 2011

Leigo

No mundo do conhecimento, todos nós somos leigos. A velocidade espantosa com que chegam novos conhecimentos - geralmente via internet – torna impossível, ao mais estudioso dos estudiosos, manter-se bem informado.

Certa ocasião, na biblioteca de uma universidade, a diretora entrou em um site de pesquisa. Em alguns segundos, centenas de pesquisas realizadas no mundo eram inseridas na rede de informações.

O interessante é que nesse curto prazo de tempo foi postado, por duas universidades de continentes diferentes, o relato de uma pesquisa sobre câncer de ovário. Os resultados conclusivos sobre a terapêutica e o prognóstico eram bem diferentes.

É muito difícil, hoje, dominar o conhecimento. Daí as especialidades, restritas não a um órgão do corpo humano, mas, no caso específico da medicina, a uma pequena função. O mesmo acontece em outros setores do conhecimento.

No momento há uma discussão jurídica entre dois países democráticos que sempre primaram pelo conhecimento jurídico.

A Itália solicita ao Brasil a devolução de um réu condenado pela sua justiça. O Brasil se nega a devolvê-lo, baseado no Direito Internacional. Essa discussão é antiga, e aguarda parecer do nosso Supremo Tribunal Federal.

Na abertura dos trabalhos legislativos, um veterano senador por São Paulo lê em plenário uma carta do italiano, pedindo clemência. Em certo trecho da carta o réu do outro continente confessou o seu desejo de permanecer por aqui. Justifica ter muito a contribuir com a nossa democracia.

O recém-eleito senador mato-grossense, que até há pouco tempo era Procurador da República e professor de Direito em São Paulo, solicita, em aparte, a devolução do italiano para a sua pátria.

Logo circula na internet o parecer de um ex-ministro da Justiça, ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, ex-senador pelo Rio Grande do Sul e professor de Direito - ele também defendeu a extradição do preso.

Uma francesa, em Paris, concedeu uma entrevista ao sério jornal O Estado de São Paulo dizendo que o italiano é inocente.

Telefono a um amigo jornalista e advogado, meu orientador, dizendo que estava confuso com o que li e ouvi. De um lado o parecer de um ex-Procurador da República e de um ex-ministro do Supremo Tribunal Federal. De outro a entrevista de uma senhora francesa. Como sou leigo no assunto, fica complicada essa divergência de colocações. Simplesmente não sei o que pensar - muito menos tirar uma conclusão sobre o caso.

Na sua peculiar generosidade, ele respondeu: “Meu amigo: a entrevista gerou a dúvida, e, no direito, quando surge a dúvida, o beneficiário é o réu”.

Agradeci o parecer do meu incentivador e pensei: se a falta de conhecimento prejudica, o excesso, agora, também.

Só uma certeza ficou: todos somos leigos, e o currículo morreu.


Gabriel Novis Neves

12-02-2011

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