segunda-feira, 12 de abril de 2010

Quebra de paradigmas

Era secretário de educação do governador Pedro Pedrossian, que quebrou vários paradigmas em sua administração, quando em minha sala de trabalho, hoje apelidada de gabinete, procurou-me uma jovem recém-formada. Para falar com o secretário do governador que quebrou paradigmas, construindo duas universidades, não era necessário marcar audiência. Bastava um pouquinho de paciência para ser atendido.

A jovem, que eu não conhecia, apresentou-se como uma cuiabana, pobre, recém formada na famosa Universidade Federal de Viçosa, e que precisava trabalhar. Não tinha carta de apresentação e nem padrinho político, apenas o seu currículo. Gostei da sinceridade e da firmeza das suas colocações, e prontamente dei uma olhada no documento. Ela era formada em Economia Doméstica. Fiquei um pouco embaraçado, pois hei de confessar, não conhecia este curso. Lembrei-me logo da minha mãe, uma verdadeira doutora nesse ramo - poderia por mérito e notável saber, ser até diretora de um curso desses. Mas minha mãe só possuía o curso primário, com uma sabedoria inata, própria daqueles que sabem sentir. Após este rápido devaneio solicitei à jovem que em rápidas palavras me dissesse como poderia ser aproveitada na minha secretaria. Ela respondeu convicta: “Quem se forma em Economia Doméstica, atua nas áreas de alimentação, higiene e saúde.” Pensei logo em aproveitá-la no nosso Restaurante Estudantil da Rua Barão de Melgaço, na educação, prevenção e promoção da saúde dos nossos escolares. Continuou a sua explicação dizendo que foi capacitada para atuar em hospitais, creches, escolas e empresas; na regulamentação das suas atividades rotineiras para o perfeito funcionamento do estabelecimento. Finalizou afirmando que o curso é superior, com duração média de quatro anos, e apesar de ótimo é pouco valorizado e conhecido. Fiquei convencido e satisfeito com as explanações. Mesmo sem saber sua religião, ideologia política, descendência familiar, e outros detalhes desse tipo - ao deixar a Secretaria a jovem levava com ela a cópia do seu contrato assinado, e orientada a começar no dia seguinte o seu trabalho. O seu perfil acadêmico e humano era o ideal para desempenhar funções no governo que quebrou paradigmas na administração de Mato Grosso.

Essa jovem desconhecida, pobre e sem pistolão só precisava de uma oportunidade - que lhe foi dada. Transformou-se em referência no ensino superior em nosso Estado, sem pistolão ou bilhetinhos de apresentação. Venceu por mérito pessoal.

Este fato aconteceu no século passado e era assim que se quebravam paradigmas.

Gabriel Novis Neves
23/03/2010

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