sexta-feira, 2 de abril de 2010

Tradição

A Malhação de Judas é uma das tradições mais caras à comunidade católica. Acontece no Sábado de Aleluia, véspera do Domingo de Páscoa, e simboliza a morte de Judas Iscariote. O cuiabano, povo tradicionalmente católico, ficou meio desapontado este ano. Os amantes da tradição da malhação tiveram alguma dificuldade para escolher um Judas para malhar. Não é que os mais fortes candidatos à malhação – falo dos políticos, aqueles nossos dirigentes - vazaram antes da hora? Difícil encontrar um substituto a altura assim de última hora. Fiquei até um pouco preocupado com o sucesso da festa por falta unicamente do seu maior protagonista. Mas encontraram. Sim, encontraram um Judas para malhar. Vão malhar o novo Secretário Estadual de Saúde.

Lendo os sites pela manhã fui surpreendido por esta notícia. Perguntei-me: O novo Secretário de Saúde? Este que mal entrou? Já é considerado Judas? Por quê? Ah! Esqueci de esclarecer que o juiz que condenou este recém-chegado “Judas” foi o porta-voz do partido do ex-governador. Então tá. Vamos ver o que ele fez de tão amaldiçoado, segundo o juiz: ele não quer assinar cheques sem saber a origem do serviço e, só por isso, já foi rotulado de traidor da administração passada, caluniador, destruidor de uma imagem de seriedade do governo que saiu; em dois dias de trabalho quer aparecer; deseja desgastar a imagem do ex-secretário para atingir o ex-governador, e por aí vai. Sentiram a traição? Nem eu.

Conheço bem o turco que querem malhar. Nunca foi funcionário público. Sempre foi um profissional liberal de sucesso. Rico, não precisa nem mais trabalhar. Acaba de sair do comando da maior cooperativa médica, com boa avaliação. É um dos raríssimos empresários que investe na deficitária área de saúde. Terminou de comprar o melhor hospital materno infantil do estado, e está ampliando-o, quando o próprio governo foge desse investimento, como o diabo foge da cruz.

Não acredito que o libanês da Rua 13 de junho, fundador do PSDB em Mato Grosso, irá suportar o rótulo de Judas – principalmente vindo de um partido político. Ele sabe que é do povo a primazia da escolha do “Judas”. Daí para chutar o balde, é só o tempo de espera para o balde encher.

O secretário freqüenta a Mesquita, cumpre fielmente o compromisso de orar cinco vezes ao dia com o rosto voltado para Meca. E não leva desaforos para casa. Arrumem com urgência outro Judas, porque este, definitivamente, não tem vocação.

Gabriel Novis Neves
02/04/2010

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