sexta-feira, 16 de abril de 2010

Água mole

Muitos conselhos eu recebo para que deixe de escrever sobre saúde e educação. Esses amigos conselheiros se justificam dizendo que os leitores estão cansados desses temas - jamais resolvidos pelos nossos governantes. Sugerem assuntos mais amenos: flores, pássaros, amor. Aceito em parte os conselhos, mas é muito difícil ignorar aqueles temas, causadores de tantos sofrimentos e aflições. A educação, que é a base da cidadania, é tratada com tanto desdém, que fico preocupado sobre o futuro do nosso país.

Recentemente um educador brasileiro, admirado em todo o mundo, se candidatou à Presidência da República e fez da educação a sua bandeira. Obteve minguados dois por cento dos votos. Como considero saúde pré-requisito da educação, os meus conselheiros estão com certa razão. Perco tempo batendo semanalmente nessa tecla que não interessa a quase ninguém. Mas, a mim, a mim interessa, e muito! Foi graças à educação que me tornei um cidadão consciente dos meus deveres e direitos.

Exemplo recente da ausência de educação cívica. A nossa cidade completou duzentos e noventa e um anos de fundação. Como sempre, no dia oito de abril pela manhã, aconteceu o desfile escolar-militar em homenagem à aniversariante. Havia poucas autoridades para prestigiar o evento. Segundo cálculos otimistas da Prefeitura, cerca de duzentas pessoas. O governador do estado, e candidato a governador, não pode comparecer. Em compensação compareceu num almoço de aniversário de um possível aliado político – ele e vários secretários - numa platéia de no mínimo mil e quinhentas pessoas.

Cuiabá, embora muitos não queiram aceitar, é a capital do estado e a sua cidade mais populosa e importante. Essa é o tipo de falta que não encontra justificativa plausível de nota, especialmente para quem quer os nossos votos. Doença não foi. Só se foi doença providencial e relâmpago, pois logo estava curado e festando. Para mim foi desprezo, negligência e descuido. Afinal este compromisso está agendado desde mil setecentos e dezenove. Vou continuar escrevendo, nem que seja só para mim. “Água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.”

Gabriel Novis Neves
10/04/2010

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