quinta-feira, 1 de abril de 2010

RELIGIÃO

Existem certos temas que evito discutir, de tão polêmicos que são. Um deles é a religião. Acredito na existência de um Deus, um Ser Absoluto, o Bem, segundo Platão, a Idéia Suprema. Mas não me atrai a idéia de entrar numa discussão a seu respeito. Isto não significa que não ouço os fiéis das mais variadas religiões, tanto as cristãs como as não cristãs. Assim como não significa que seja um completo leigo no assunto.

Este final de semana ao encerrar os trabalhos no consultório, a minha secretária entrega-me um convite para participar de um culto religioso no dia 30 de Março de 2.010 - data da morte de Cristo para esses religiosos. Acompanhava o convite uma pequena revista da Igreja dirigida aos iniciantes daquela fé. Os católicos também cultuam esta passagem da história do Cristianismo, mas em outro dia - este ano será no dia 2 de abril. As inúmeras religiões cristãs existentes no mundo têm o seu dia especial para lembrar este fato. Religião é fé e fé não se discute, pois é o caminho que as pessoas tentam encontrar em busca da felicidade, conforto ou cura para os seus males da alma.

Antes de dormir sempre passeio pelos canais de televisão esperando o sono chegar. Outro dia sintonizei num programa religioso. Não acreditei no que estava vendo e ouvindo! Fiquei tão estarrecido que até perdi o sono. O apresentador se auto-intitulava missionário da cura divina. O que mais me chamou a atenção foi a fé ingênua do povo presente, num claro exemplo da extrema miséria cultural em que vivemos. Tudo bem, eu até que acredito em certos milagres, afinal como já dizia aquele famoso poeta inglês – “há mais mistérios entre o Céu e a Terra do que sonha nossa vã filosofia.” Mas, assim? De supetão? Cura imediata? A pessoa entra paralítica e sai andando? Entra cego e sai enxergando? Como o nosso povo é bom, generoso, sofredor e crédulo! Sem educação e programas governamentais de promoção e solidariedade humana, não se pode nem condenar essas pessoas. Só resta a esta gente desamparada, a fé de resultados imediatos para os seus sofrimentos.

Mal sabem aquelas criaturas que estão sendo vítimas da ganância e extorsão dos chamados missionários por conta própria. Os proprietários da venda de ilusões das curas nem sempre moram no Brasil e vivem da exploração dos humildes. Não acredito que o meu Deus precise de tanta grana e tenha lobistas do nível que assistimos diariamente pela televisão. E as nossas zelosas autoridades não sabem de nada? Fé vendida em cada esquina não paga impostos, não é? O mais lamentável de tudo isso, é a omissão do nosso Conselho Federal de Medicina, tão preocupado com coisas menores, permitir o comércio da cura. Há anos os médicos do Brasil e os seus órgãos de classe lutam no Congresso Nacional, para regulamentar o ato médico. Defendem corretamente ser prerrogativa médica o diagnóstico das doenças e a orientação do tratamento dos enfermos. Qual o motivo de aceitarem sem resmungar, o ato médico e tratamento de milhões de brasileiros pela televisão, feitos por mãos ineptas e leigas?

Não discuto religião, também não sou um profundo conhecedor do assunto. Acredito em um Deus que não precisa de lobistas e nem cobra honorários para curar as doenças do corpo e da alma.

Gabriel Novis Neves
28/03/2010

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