quarta-feira, 21 de abril de 2010

Apelo sincero

“Tudo já foi dito uma vez, mas como ninguém escuta é preciso dizer de novo.” – (André Gide)

Estava trabalhando quando o telefone toca. Atendo e tenho uma grata surpresa: era uma pessoa muito querida. Cuiabana, neta de Pedro Celestino Corrêa da Costa, sobrinha de Fernando Corrêa da Costa, esposa de José Fragelli e minha prima. Era a Sra.Lourdes Fragelli. Ela não gosta de Cuiabá, simplesmente a ama. Casou-se com o corumbaense Dr. Fragelli, e dedicou grande parte de sua vida à construção de um Estado mais digno para todos mato-grossenses.

A carreira política do doutor Fragelli foi toda coroada de êxitos. Ele foi deputado estadual, federal, governador do estado, e teve o seu ápice como senador da república e Presidente do Senado. Neste cargo deu posse interinamente ao Vice-Presidente José Sarney, por ocasião da doença de Tancredo Neves, como Presidente da Nova República. Fragelli diante da doença do titular, eleito pelo Congresso Nacional Presidente do Brasil, como estudioso jurista, ajudou a encontrar uma saída político-jurídica para aquele grave momento.

Fragelli não se encantou com os cânticos do poder. Fazia política não pelo poder. Sua ambição sempre foi o de servir o seu povo e não o de servir-se dele, tão em moda atualmente. Com noventa e dois anos de vida, encontra-se fragilizado para certas conversas. Nessa hora assume as funções de porta voz do ex-governador a sua Lourdes - firme como uma árvore de jacarandá. Diante do questionamento de um jornalista de Cuiabá, acerca da iminente demolição do Verdão, respondeu, dentro da coerência que foi a sua vida, que poderíamos construir um novo estádio de futebol para a Copa, e manter o velho Verdão. Citou o caso do Rio de Janeiro, que para os jogos pan-americanos construiu o Engenhão e reformou o Maracanã. O envelhecimento do Pacaembu, fez surgir o Morumbi em São Paulo. Londres demoliu o seu centenário estádio, por absoluta ausência de área física o que não é o caso de Cuiabá.

“História não se destrói. Mesmo nas guerras os monumentos demolidos são reconstruídos”, lamenta dona Lourdes. Este estádio condenado a desaparecer é um pedaço da história de Mato Grosso - está relacionado à ocupação do norte do estado e o seu desenvolvimento. Foi com a venda de grande parte das suas terras, que surgiu o dinheiro para a construção do Verdão, e o aparecimento de inúmeras cidades no norte. O novo estádio será construído com recursos financeiros oriundos de financiamentos bancários, que depois iremos pagar. Infelizmente não há mais tempo hábil para reverter este triste e lamentável fato. A decisão de passar o trator já está tomada.

Mas sempre há tempo para ouvir o apelo sincero da dona Lourdes Fragelli, que tenho a certeza, falou em nome do construtor do Verdão e da população de Mato Grosso.

Gabriel Novis Neves
15/04/2010

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