segunda-feira, 12 de abril de 2010

NADA A DECLARAR

Durante os governos militares tivemos um Ministro da Justiça que ficou famoso com um bordão que criou para responder a certas perguntas da imprensa: “nada a declarar.” Naquele período havia uma censura implacável - hoje é mais suave - e os “zunzunzuns” que corriam à boca miúda, atiçavam a mídia, ávidas de maiores esclarecimentos. Comentava-se, por exemplo: jornalista encontrado morto por enforcamento, em uma prisão. Seqüestro do Embaixador americano no Rio de Janeiro. Emboscada do Marighela em São Paulo. Bomba no Aeroporto de Recife. Roubo do cofre do Adhemar de Barros, no Rio de Janeiro.

Os repórteres dos jornais, rádio e televisão escolhidos e credenciados para entrevistar o Ministro da Justiça, ficavam, não raro, longo tempo esperando. E a espera se resultava frustrante, pois o Ministro, que era bombardeado com comprometedoras perguntas, a tudo repetia irritantemente: “nada a declarar.”

Passado mais de trinta anos daquelas cenas - que considerava pornográficas - começo a entender aquela estranha conduta militar. Nada a declarar é mais ético que mentir ou tentar justificar o injustificável. “O tempo cicatriza as feridas”, como gostava de dizer Fernando Corrêa da Costa. O comando do governo estadual e municipal está mudando. O que falar deste período da nossa história? O mais prudente, para não cometer injustiça, é adotar o velho bordão: nada a declarar e seguir o conselho de Fernando Corrêa para aguardar o julgamento cicatrizante do tempo.

Como opinar sem emoção do momento sobre dois mandatos recém-abandonados? Nada a declarar - por enquanto. A história e o tempo são os senhores do julgamento.

Gabriel Novis Neves
31/03/2010

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