terça-feira, 6 de abril de 2010

Último lanche

Há quatro anos saímos de uma consulta médica no Rio de Janeiro. O diagnóstico da doença estava fechado, mas ninguém do grupo queria acreditar na sentença. Regininha então sugeriu que fizéssemos um lanche e escolheu o local. Lembro-me muito bem dos seus comentários sobre a beleza da casa, especialmente dos seus vitrais e dos enormes espelhos de cristal. Falou que quando menina freqüentava muito aquele local, sempre em companhia do seu avô quando este estava de férias no Brasil.

Na Confeitaria Colombo – o local escolhido – ela se comportou como uma turista que estava visitando pela primeira vez o local, ou de alguém que se despedia de uma imagem muito marcante em sua vida. Olhava atentamente todos os detalhes desta secular e grandiosa confeitaria. Chamou a atenção da sua filha e genro, sobre a enorme clarabóia em mosaicos coloridos importada da França, que permitia a entrada da luz do sol na casa, iluminando-a. Tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, esse local é um patrimônio da história do Brasil. Entretanto, para mim, esse local representa simplesmente o lugar do último lanche da Regina.

Relembrar o passado com tristeza não faz bem a saúde, afirmam alguns, mas como me esquecer deste dia, tão entrelaçado com as minhas mais caras lembranças da Regininha? Como não relembrar aos meus filhos, neto, netas, noras e genro o seu último desejo naquele dia? - Salada de folhas e verduras coloridas, refrigerante, e de sobremesa, a de sempre: folhado recheado de creme e bomba de chocolate. Simples assim, com a simplicidade que sempre marcou sua vida. Depois vinha o arrependimento pelo excesso de calorias – mas nada que uma boa semana de malhação não resolvesse.

A menina que nasceu na terra do tango, adotou o Rio de Janeiro como sua cidade, o bairro do Leme como seu refúgio e Cuiabá como a terra dos seus filhos e netos, hoje mora em outro lugar. Partiu para um mundo invisível aos nossos olhos. Partiu, mas nos deixou um precioso e rico patrimônio – uma família amorosa e unida, fruto da sua incansável dedicação e incondicional amor.

Tenho certeza de que, lá no seu mundo invisível, está tranqüila, feliz, em boa companhia, e se divertindo muito com o que anda acontecendo por aqui - saboreando o seu folhado de creme com bomba de chocolate.

Gabriel Novis Neves
06/04/2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.