quinta-feira, 1 de abril de 2010

Quem não te conhece...

“Quem não te conhece que te compre” é um ditado popular muito usado entre nós. Tem sua origem num conto espanhol e relata a história de um bondoso senhor que tinha um belo burro.

Diz a história que este senhor era uma pessoa que tinha ótima índole: inocente, simplório, generoso, caridoso e afável com todos. Bondoso ao extremo, não gostava de cansar o animal. Assim, acostumara-se a andar puxando-o pelo cabresto. Um dia um grupo de estudantes, na maior farra, o viram passar deste modo e decidiram roubar o burro. Enquanto alguns levavam o animal sem que o dono visse, o mais travesso dos estudantes ficou no lugar do burro, com a mão atada ao cabresto. Quando o proprietário do burro viu o rapaz, ficou pensando que o burro tinha se transformado em gente. O estudante mentiu que, no passado, tinha sido brigão, jogador, afeiçoado às mulheres e muito vadio. Por isso, seu pai o amaldiçoara dizendo: “És um asno, e em asno te deverias mudar.” Dito e feito. A maldição fez com que virasse um burro e, por quatro anos, vivera daquela forma. Agora, arrependido de seus pecados, tinha voltado ao normal. O velho espanhol ficou maravilhado com a história. Teve pena do estudante e não se importou com o dinheiro que estava perdendo sem o burro. Aconselhou-o a ir depressa se apresentar ao seu pai e reconciliar-se com ele. O estudante, com falsas lágrimas de gratidão nos olhos, foi embora. Tempos depois, passeando numa feira, ficou assombrado ao ver à venda um burro idêntico ao que tivera. Naturalmente, era o mesmo, mas, ingenuamente, o velho concluiu que o estudante tinha voltado à vida de travessuras e que o pai o amaldiçoara de novo. Aproximando-se do burro, falou-lhe ao ouvido: “Quem não te conhece, que te compre!”

Aqui em nosso Estado estamos cheios de políticos e candidatos a políticos fazendo o papel dos estudantes. Chegam de mansinho, e com suas artimanhas, mentiras e espertezas vão se transformando em salvadores da pátria. O povo na sua simplicidade de espírito e ingenuidade - tal qual o bondoso velhinho do conto – acreditava. Acreditava, porém, não acredita mais. Após anos de ilusão, cansado de tantas falsas promessas o povo percebeu o grande engodo.

Também, pudera! Não há como para passar despercebido o descaso das nossas autoridades. A saúde pública no Estado foi totalmente sucateada. A dengue continua matando, o número de transplantes de órgãos diminuiu. Não possuímos equipes especializadas para a retirada de órgãos, e os remédios que evitam a rejeição do órgão transplantado estão sempre em falta. O vergonhoso “espetáculo” dos hospitais fechando. Os hospitais regionais não funcionam e a sua manutenção é caríssima. Reboco terapia é o procedimento para atender o interior e desestruturar o frágil atendimento em Cuiabá e Várzea-Grande. Falta de medicamentos para os pobres. Morte da auto-estima dos trabalhadores da saúde. Propaganda enganosa de distribuição de migalhas para a rede pública de saúde. As desumanas filas para atendimento médico aos mais necessitados. Gente morrendo à espera de um simples atendimento. Equipamentos caríssimos abandonados pelo Estado. Isto só na área da saúde; temos ainda problemas gravíssimos na educação, saneamento básico, segurança.

Os mato-grossenses em breve irão à feira, digo as urnas, e na certa os “burros” não passarão pelo crivo dos eleitores. Ariscos, olharão enviesados e dirão: “Quem não te conhece que te compre”.

Gabriel Novis Neves
16/02/2010

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