Nasceu numa noite de vinte e quatro de dezembro, após um longo trabalho de parto.
Foi o melhor presente de Natal que ganhei até hoje.
Todo o amor que eu trazia guardado no peito foi projetado naquela frágil criancinha.
Ali, no berço da maternidade, tudo acontecia pela primeira vez — e cada gesto era celebrado como uma vitória da vida.
Na noite do nascimento de Cristo, nascia também a minha primeira neta.
Sua avó materna se debruçava sobre ela, num gesto de carinho sem fim.
Enquanto a cidade ceava, nós festejávamos sua primeira mamada, sugando o seio da mãe, numa cena sagrada.
Havia o ritual de evitar a regurgitação, com leves batidas de dois dedos nas costas do recém-nascido.
A troca da primeira fralda — que no meu tempo de criança, era jogada cuidadosamente no telhado da casa.
Naquela época, aliás, o nascimento de uma criança em casa seguia rituais bem diferentes dos partos em maternidade.
A placenta era enterrada no quintal.
O marido fervia a água para esterilizar a bacia do primeiro banho, assim que o bebê chorasse.
A parteira trazia o fio para amarrar o cordão umbilical, a tesoura e o mercúrio cromo para o curativo.
Minha primeira neta ficou tão ligada a mim que, até hoje, faz questão de almoçar comigo no dia do seu aniversário — mesmo tendo de preparar a ceia em sua própria casa.
As pequenas coisas da vida — o nascimento de uma criança, seu crescimento e desenvolvimento — nunca esquecemos.
Vivem dentro de nós, acompanhadas de uma saudade danada daquele tempo.
Crescem, tornam-se adultos, e tudo fica diferente.
Os adultos são burocráticos nas conquistas, sem o encanto espontâneo que as crianças nos oferecem, sempre cheias de novidades.
Tenho três bisnetas e um bisneto aqui em Cuiabá, e outro na cidade do Porto, em Portugal.
A distância não diminui o amor que sinto por eles, embora com os daqui eu tenha um convívio quase diário.
Aos sábados, fazem questão de almoçar com o biso, beijá-lo e serem fotografados.
As bisnetas — cada uma mais linda que outra — vestem vestidos de tecidos iguais e me pedem à benção quando chegam e ao sair.
Quase sempre trazem amiguinhas para acompanhá-las.
Hoje é aniversário da minha neta mais velha. Quero todas juntas comigo, no almoço do seu aniversário.
Gabriel Novis Neves
24-12-2025
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