quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

MINHA PRIMEIRA NETA


Nasceu numa noite de vinte e quatro de dezembro, após um longo trabalho de parto.

 

Foi o melhor presente de Natal que ganhei até hoje.

 

Todo o amor que eu trazia guardado no peito foi projetado naquela frágil criancinha.

 

Ali, no berço da maternidade, tudo acontecia pela primeira vez — e cada gesto era celebrado como uma vitória da vida.

 

Na noite do nascimento de Cristo, nascia também a minha primeira neta.

 

Sua avó materna se debruçava sobre ela, num gesto de carinho sem fim.

 

Enquanto a cidade ceava, nós festejávamos sua primeira mamada, sugando o seio da mãe, numa cena sagrada. 

 

Havia o ritual de evitar a regurgitação, com leves batidas de dois dedos nas costas do recém-nascido.

 

A troca da primeira fralda — que no meu tempo de criança, era jogada cuidadosamente no telhado da casa.

 

Naquela época, aliás, o nascimento de uma criança em casa seguia rituais bem diferentes dos partos em maternidade.

 

A placenta era enterrada no quintal.

 

O marido fervia a água para esterilizar a bacia do primeiro banho, assim que o bebê chorasse.

 

A parteira trazia o fio para amarrar o cordão umbilical, a tesoura e o mercúrio cromo para o curativo.

 

Minha primeira neta ficou tão ligada a mim que, até hoje, faz questão de almoçar comigo no dia do seu aniversário — mesmo tendo de preparar a ceia em sua própria casa.

 

As pequenas coisas da vida — o nascimento de uma criança, seu crescimento e desenvolvimento — nunca esquecemos.

 

Vivem dentro de nós, acompanhadas de uma saudade danada daquele tempo.

 

Crescem, tornam-se adultos, e tudo fica diferente.

 

Os adultos são burocráticos nas conquistas, sem o encanto espontâneo que as crianças nos oferecem, sempre cheias de novidades.

 

Tenho três bisnetas e um bisneto aqui em Cuiabá, e outro na cidade do Porto, em Portugal.

 

A distância não diminui o amor que sinto por eles, embora com os daqui eu tenha um convívio quase diário.

 

Aos sábados, fazem questão de almoçar com o biso, beijá-lo e serem fotografados.

 

As bisnetas — cada uma mais linda que outra — vestem vestidos de tecidos iguais e me pedem à benção quando chegam e ao sair.

 

Quase sempre trazem amiguinhas para acompanhá-las.

 

Hoje é aniversário da minha neta mais velha. Quero todas juntas comigo, no almoço do seu aniversário.

 

Gabriel Novis Neves

24-12-2025






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