sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

USO DE CHAPÉUS


Folheando um antigo álbum de fotografias, notei que, antigamente, a maioria dos homens usava chapéu.


No armário lá de casa, meu pai guardava uma pequena coleção, mas não me lembro de vê-lo usando nenhum deles.


Talvez fosse apenas uma extravagância da juventude. Tenho uma fotografia em que ele aparece de terno, gravata e chapéu, ao lado de amigos, assistindo a uma tourada no Campo D’Ourique.


Os trabalhadores mais humildes iam para o serviço de terno e chapéu.


Aos domingos e feriados, os moradores dos bairros vinham tomar a tradicional cervejinha no bar do meu pai, impecáveis em seus ternos brancos, engomados pelas lavadeiras do Baú, sempre com o chapéu bem posto na cabeça.


Na Praça Alencastro, os engraxates se multiplicavam. Alguns tinham até uma pequena banca na entrada do bar, ao lado das portas de madeira, trancadas com grossas travas horizontais.


Nas casas cuiabanas, os corredores costumavam ter um lugar próprio para pendurar chapéus. Já na entrada, uma argola servia para amarrar os cavalos, principal meio de transporte da época.


Tudo isso eu vi quando menino.


As mulheres também usavam chapéu, mas apenas em ocasiões especiais. Nos casamentos, surgiam com modelos elegantes, enfeitados com finos bordados que lhes protegiam o rosto.


O chapéu-panamá era símbolo de status. Quem o usava era logo tratado por “coronel”.


Quando deixei Cuiabá para estudar, alguns professores do Colégio Estadual ainda davam aulas de terno e gravata. Lembro-me do professor Agostinho de Figueiredo, de Química e Física, e de Cesário Neto, de Português.


Outros, como Francisval de Brito, de Geografia, e Gastão Müller, de História, vestiam terno, mas dispensavam o chapéu.


Desembargadores, políticos e funcionários graduados mantinham a tradição.


Presidentes da Velha República — de Dutra a Vargas, de Juscelino a Jânio Quadros — eram sempre vistos de chapéu.


Com o golpe militar de 1964, os chapéus foram substituídos pelos quepes.


Hoje, o Presidente da República usa chapéu-panamá para proteger a cicatriz de uma cirurgia na cabeça. Ou, então, bonés desenhados por marqueteiros.


O velho chapéu, tão presente no vestuário do início do século XX, caiu no esquecimento, como tudo o que envelhece.


Será que ainda existem lojas de chapéus em Cuiabá?


De cantores sertanejos, há aos montes.


Tudo é questão de moda…


Gabriel Novis Neves

17-02-2025





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