terça-feira, 16 de dezembro de 2025

FALTANDO OPINIÃO

 

Nem todo assunto pede posição.

 

São tantos os temas sobre os quais não tenho opinião que fui buscar abrigo nos livros.

 

E lá descobri algo reconfortante: muitas vezes, a sabedoria está justamente em não saber o que pensar.

 

Na medicina, por exemplo, a prudência se manifesta no pedido de uma ‘junta médica. ’ Quantas vezes recorri a essas reuniões, consciente de que decidir sozinho poderia ser arrogância disfarçada de segurança.

 

Nos regimes democráticos, a organização do poder se distribui entre o Executivo, com seus ministros; o Legislativo com senadores, deputados e vereadores; e o Judiciário com ministros, juízes, promotores e desembargadores.

 

Mesmo assim, nos colegiados, nem todos dominam os assuntos em pauta, ainda que exista um relator para conduzir o debate.

 

Nas ditaduras, ao contrário, apenas alguns pensam.

 

Ergue-se uma verdadeira cortina de ferro entre os mandatários e o povo.

 

Com a evolução do conhecimento e das ciências, paradoxalmente, passamos a saber cada vez mais sobre cada vez menos.

 

Isso dificulta a convivência e confunde a vida em sociedade.

 

Os cursos superiores já não têm terminalidade, e quem paga o preço dessa fragmentação é a própria sociedade.

 

Isso vale para todos os níveis do saber.

 

Na última sexta-feira, o aparelho de ar-condicionado do meu escritório deixou de funcionar.

 

Ouvi a opinião do técnico que me atende há anos.

 

Diagnosticou a necessidade de trocar uma peça.

 

A peça foi substituída, e paguei por ela e pela visita técnica.

 

Quarenta e oito horas depois, o aparelho começou a vazar água.

 

O técnico voltou, fez uma limpeza e cobrou nova visita.

 

É assim em quase todos os ramos do conhecimento humano.

 

Torna-se impossível ter opinião segura diante de todos os desafios que se apresentam.

 

Outro exemplo: quando conclui o curso de Medicina, existiam o clínico geral e o cirurgião geral.

 

Hoje são tantas as especialidades e subespecialidades que, muitas vezes, não sei responder.

 

O pior é que, após a graduação, o médico ainda precisa cumprir residência, especialização, mestrado, doutorado e, não raro pós-doutorado — entrando no mercado de trabalho aos trinta e cinco anos, se for bom aluno.

 

Talvez, afinal, não ter opinião seja apenas reconhecer os próprios limites.

 

Gabriel Novis Neves

15-12-2025



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