Nem todo assunto pede posição.
São tantos os temas sobre os quais não tenho opinião que fui buscar abrigo nos livros.
E lá descobri algo reconfortante: muitas vezes, a sabedoria está justamente em não saber o que pensar.
Na medicina, por exemplo, a prudência se manifesta no pedido de uma ‘junta médica. ’ Quantas vezes recorri a essas reuniões, consciente de que decidir sozinho poderia ser arrogância disfarçada de segurança.
Nos regimes democráticos, a organização do poder se distribui entre o Executivo, com seus ministros; o Legislativo com senadores, deputados e vereadores; e o Judiciário com ministros, juízes, promotores e desembargadores.
Mesmo assim, nos colegiados, nem todos dominam os assuntos em pauta, ainda que exista um relator para conduzir o debate.
Nas ditaduras, ao contrário, apenas alguns pensam.
Ergue-se uma verdadeira cortina de ferro entre os mandatários e o povo.
Com a evolução do conhecimento e das ciências, paradoxalmente, passamos a saber cada vez mais sobre cada vez menos.
Isso dificulta a convivência e confunde a vida em sociedade.
Os cursos superiores já não têm terminalidade, e quem paga o preço dessa fragmentação é a própria sociedade.
Isso vale para todos os níveis do saber.
Na última sexta-feira, o aparelho de ar-condicionado do meu escritório deixou de funcionar.
Ouvi a opinião do técnico que me atende há anos.
Diagnosticou a necessidade de trocar uma peça.
A peça foi substituída, e paguei por ela e pela visita técnica.
Quarenta e oito horas depois, o aparelho começou a vazar água.
O técnico voltou, fez uma limpeza e cobrou nova visita.
É assim em quase todos os ramos do conhecimento humano.
Torna-se impossível ter opinião segura diante de todos os desafios que se apresentam.
Outro exemplo: quando conclui o curso de Medicina, existiam o clínico geral e o cirurgião geral.
Hoje são tantas as especialidades e subespecialidades que, muitas vezes, não sei responder.
O pior é que, após a graduação, o médico ainda precisa cumprir residência, especialização, mestrado, doutorado e, não raro pós-doutorado — entrando no mercado de trabalho aos trinta e cinco anos, se for bom aluno.
Talvez, afinal, não ter opinião seja apenas reconhecer os próprios limites.
Gabriel Novis Neves
15-12-2025
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