É delicado falar de memória, esquecimento, afeto e cuidado.
Quantas vezes encontramos pessoas que repetem a mesma pergunta e, conforme o grau de intimidade, somos colocados numa situação desconfortável.
Não sabemos se corrigimos, se respondemos novamente ou se silenciamos por respeito.
Trata-se também de um tema médico, pois envolve memória, esquecimento, afeto e carinho.
Com o avançar da idade e o envelhecimento do organismo, surge uma série de problemas, mais acentuados em determinados setores do corpo e da mente.
A memória com seus transtornos e lapsos; o afeto e o carinho, por vezes diminuídos, tornam-se alvos frequentes do envelhecer.
Tenho noventa anos e alguns meses.
Quando me queixo aos meus excelentes médicos das dores nos joelhos, da região plantar dos pés ou da possibilidade de a bateria do meu marca-passo cardíaco estar prestes a vencer, a resposta costuma ser única e reconfortante: — mas você está bem da memória.
Cuidar das próprias contas, escrever diariamente, tratar com afeto os seus — especialmente os bisnetos — parece compensar todos os outros incômodos da velhice.
Confesso que ninguém demonstra muita solidariedade com esses pequenos sofrimentos que o tempo impõe.
Com a evolução da medicina, a chamada ‘pergunta repetida’ passou a ser fortemente associada à doença de Alzheimer, que ainda não tem cura.
Quando esse sintoma aprece em jovens, deve ser prontamente investigado por um neuro-psiquiatra, sobretudo quando vem acompanhado de esquecimento e perda do afeto.
Confesso a dificuldade de conversar com alguém que repete as mesmas perguntas, recebendo sempre as mesmas respostas.
Nessas situações, é inevitável pensar — e afastar — algo mais grave, como tumores cerebrais.
A memória muitas vezes ignorada em consultas médicas de rotina, só é verdadeiramente valorizada quando começa a falhar.
O esquecimento quase sempre caminha junto com os distúrbios da memória.
Já a perda do afeto e do cuidado costuma estar mais relacionada as alterações da personalidade.
São patologias sérias, que podem acometer qualquer um de nós.
Fazer uma pergunta e repeti-la ocasionalmente é normal.
Repeti-la constantemente, porém, indica que a pessoa necessita de avaliação e ajuda médica.
Graças a Deus, ainda possuo uma memória privilegiada — embora os nomes próprios, vez ou outra, insistam em fugir.
Gabriel Novis Neves
06-12-2025
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