domingo, 28 de dezembro de 2025

PERGUNTAS REPETIDAS


É delicado falar de memória, esquecimento, afeto e cuidado.

 

Quantas vezes encontramos pessoas que repetem a mesma pergunta e, conforme o grau de intimidade, somos colocados numa situação desconfortável.

 

Não sabemos se corrigimos, se respondemos novamente ou se silenciamos por respeito.

 

Trata-se também de um tema médico, pois envolve memória, esquecimento, afeto e carinho.

 

Com o avançar da idade e o envelhecimento do organismo, surge uma série de problemas, mais acentuados em determinados setores do corpo e da mente.

 

A memória com seus transtornos e lapsos; o afeto e o carinho, por vezes diminuídos, tornam-se alvos frequentes do envelhecer.

 

Tenho noventa anos e alguns meses.

 

Quando me queixo aos meus excelentes médicos das dores nos joelhos, da região plantar dos pés ou da possibilidade de a bateria do meu marca-passo cardíaco estar prestes a vencer, a resposta costuma ser única e reconfortante: — mas você está bem da memória.

 

Cuidar das próprias contas, escrever diariamente, tratar com afeto os seus — especialmente os bisnetos — parece compensar todos os outros incômodos da velhice.

 

Confesso que ninguém demonstra muita solidariedade com esses pequenos sofrimentos que o tempo impõe.

 

Com a evolução da medicina, a chamada ‘pergunta repetida’ passou a ser fortemente associada à doença de Alzheimer, que ainda não tem cura.

 

Quando esse sintoma aprece em jovens, deve ser prontamente investigado por um neuro-psiquiatra, sobretudo quando vem acompanhado de esquecimento e perda do afeto.

 

Confesso a dificuldade de conversar com alguém que repete as mesmas perguntas, recebendo sempre as mesmas respostas.

 

Nessas situações, é inevitável pensar — e afastar — algo mais grave, como tumores cerebrais.

 

A memória muitas vezes ignorada em consultas médicas de rotina, só é verdadeiramente valorizada quando começa a falhar.

 

O esquecimento quase sempre caminha junto com os distúrbios da memória.

 

Já a perda do afeto e do cuidado costuma estar mais relacionada as alterações da personalidade.

 

São patologias sérias, que podem acometer qualquer um de nós.

 

Fazer uma pergunta e repeti-la ocasionalmente é normal.

 

Repeti-la constantemente, porém, indica que a pessoa necessita de avaliação e ajuda médica.

 

Graças a Deus, ainda possuo uma memória privilegiada — embora os nomes próprios, vez ou outra, insistam em fugir.

 

Gabriel Novis Neves

06-12-2025






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