VÍCIO

Desde os primórdios da civilização nunca foi tão fácil ficar viciado ou dependente.

Poderá ser de drogas, substâncias químicas, lugares ou até de pessoas.

Nem poderia pensar que fosse me habituar a tomar uma xícara de chá após a soneca do almoço.

Saio do meu dormitório chamando a minha funcionária que me fez gostar do chá de camomila, antes de chegar ao escritório, de onde sairei assim que o sol desaparecer.

Da cozinha ela me traz um copo de água gelada e uma caneca que ganhei no dia do meu aniversário com o chá fervendo.

Diagnóstico feito: estou dependente dessa bebida.

Quando morava no Rio de Janeiro, era viciado na praia aos domingos e cheguei até a mudar de cor, para bronzeado.

Fui totalmente dependente da minha mulher, muito mais nova que eu, enquanto ela esteve conosco.

Que ingrediente é este fabricado em nosso cérebro e que nos fazem ficar viciados?

Será que podemos debitar o bem-estar que sentimos com o vício apenas na liberação da serotonina?

Esse mecanismo cerebral é fantástico e os segredos do cérebro, a ciência ainda não desvendou.

Diferente do coração, que leva a fama de tudo de bom que acontece com a gente, já foi totalmente explorado e investigado, inclusive poderá ser transplantado.

É uma cirurgia com duração de pouco mais de duas horas, com alta precoce.

Um dos vícios que adquiri com a maturidade foi a de escrever e não sei como os assuntos do cotidiano brotam em meu cérebro.

Procuro ler e quase não tenho tempo, pois o meu vício é escrever.

Assim descobri que não tenho o hábito da leitura de clássicos, pois sempre fui viciado às leituras técnicas para exercer a minha profissão e função docente.

Inexplicável é que muitos colegas que se dedicaram a academia, tornaram-se grandes escritores e poetas da Academia Brasileira de Letras e as regionais.

Transformei-me, não sei como e gostaria de saber, esse “dom” de escrever, em um viciado de escrever diariamente.

Gabriel Novis Neves

04-09-2023