domingo, 10 de setembro de 2023

CARNAVAL NO CLUBE DOM BOSCO


Mais um conto cuiabano da escritora Sueli Rondon.


“O Clube D.Bosco era o mais frequentado pela elite cuiabana.


O must, o chique da época era ser sócio do clube D.Bosco e exibir a carteirinha, ao invés de pagar ingresso, e se fosse comprar era necessário a indicação de um sócio para adquirir.


Cuiabanos ao serem apresentados a estranhos, a primeira coisa que era perguntada, era: De que família você é?


Todo mundo conhecia todo mundo ou tinha algum parentesco longínquo com os frequentadores.


Carnaval, época em que alguma licenciosidade era permitida, numa sociedade de valores rígidos.


As fantasias carnavalescas permitiam que se mostrasse um pouco mais do que devia.


Odaliscas com musselines transparentes, belas morenas fantasiadas de indígenas com penas e plumas a partir dos quadris e cocar realçando sua beleza cuiabana.


Os rapazes também caprichavam, piratas, rei momo, havaianos (que era mais fácil, uma camisa estampada com flores e bermuda branca).


Enfim, confetes e serpentinas no salão e o vai e vem das garotas nos toilletes femininos, para retocar a maquiagem.


Mas a maioria das vezes era para ser notada, avistada por aquele por quem seu coração já palpitava.


Orquestra sintonizada, animação geral, clima festivo, no auge do esplendor!


Eis que um tumulto surge na entrada do clube!


Um playboy carnavalesco, muito conhecido entre seus pares, adentra as escadarias do clube fantasiado de sultão!


Turbante na cabeça com imensa pedra de rubi e plumas, trajes de cetim branco, e atrás dele acompanhando-o, dois sujeitos carregando nas mãos um imenso abanador de vara comprida e plumas brancas nas pontas que o abanavam mansamente trajados de escravos.


Barrado o sultão pelo diretor do clube, começou a confusão.  


Os escravos não eram sócios não podiam entrar de jeito nenhum.


O sultão rebatia que fazia parte da fantasia!


Mas não teve jeito, deu meia volta e foi embora.


Minutos depois voltou ao clube sozinho com um revólver dando tiros para o alto!


Acabada a festa, contido o sultão enraivecido, a sociedade cuiabana não perdoou.


No dia seguinte a marchinha mais tocada no clube era: “ Não fique triste

   Senhor Sultão

   Não fique bravo

   Ninguém vai mexer

   Com seu escravo"


Agosto 2023


Histórias contadas”


Gabriel Novis Neves

05-08-2023



Recordações nas redes sociais, por cuiabanos ilustres 



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