sexta-feira, 22 de setembro de 2023

SONHO NÃO REALIZADO


Quando criança, tinha muitos sonhos a realizar quando adulto.


Uns eu consegui converte-los em realidade, como estudar medicina, constituir uma família com filhos e viver muitos anos (88) com saúde.


Curtir netos e bisnetos e poder dizer a eles que os amo muito.


Alegrar-me por ter uma família muito unida e trabalhadora.


Outros, fiz o possível que podia fazer, para que todos tivessem oportunidades, e que a educação e saúde de qualidade fossem para todos.


Não consegui.


Avançamos muito, porém não foi o que sonhei.


Acredito também que priorizar saúde e educação, deve ser um sonho de todos os brasileiros.


O sonho mais frustrante que não consegui transformar em realidade e luto até hoje para conseguir revertê-lo, foi o de nunca ter aprendido música instrumental.


Quando criança, minha família e o meio em que fui criado, não era musical.


Eram ferrenhos críticos daqueles que escolhiam essa arte como profissão.


Diziam que essa profissão era para aqueles que não desejavam estudar.


Abriam exceções para os estudos de piano ou violino.


Os raros que se aventuravam e depois abandonaram o piano, eram vistos com maus olhos e sua sexualidade era debatida.


Os instrumentos de corda como o violão, cavaquinho e bandolim eram excecrados pelos pais, que desejavam que seus filhos fossem doutores ou funcionários do Banco do Brasil.


Incompreensível para mim, que desde que me entendo por gente, nos tempos que andava descalço, nunca fui proibido de frequentar o bar do meu pai.


Fui criado metade em casa, metade no bar, logo ajudando o meu pai como garçom, servindo aos fregueses na mesa.


Ali era a casa dos chorões como Tote Garcia, Hermínio Pastel, Nilson Constantino, Odare Vaz Curvo, Bugrinho craque de futebol, a Turma do Morro (filhos do professor André Avelino), Hélio do Mundéu e tantos outros.


Onde há música existem poetas, historiadores e letrados.


Estou relatando Cuiabá de 1945-1950.


Esse era o ambiente que sonhei a pertencer no futuro, mas primeiro tinha que estudar, e logo viajei para o Rio de Janeiro.


Retornei doze anos depois, médico e casado.


O meu mundo era outro e trabalhava muito na minha profissão de médico, nunca me esquecendo da música.


Na primeira oportunidade que a música me ofereceu com reitor da UFMT, criamos a Banda Universitária, a Escola de Samba Mocidade Universitária Independente, o Coral Universitário, o Quarteto de Cordas e a Orquestra Sinfônica Universitária.


Foi construído então o Teatro Universitário para que estudantes, professores, servidores e comunidade pudessem assistir aos Concertos da nossa Orquestra Sinfônica, Quarteto de Cordas e Coral.


Também músicos que vinham de fora.


Antes da inauguração do Teatro (1982) sediamos por alguns anos o projeto Pixinguinha, ocasião que tive o prazer de receber na reitoria o maestro Radamés Gnattali e o violinista Turíbio Santos, entre outros músicos, cantores e cantoras.


Paguei um alto preço pelo sonho que não realizei e não desisto.


Ganhei do meu amigo Benedito Pedro Dorileo um novo violão, e a indicação de um bom professor para as aulas particulares em casa.


Ia até bem, com muitas dificuldades.


Veio a pandemia e tudo foi interrompido.


Não sei se terei tempo ainda para aprende tocar violão.


Gabriel Novis Neves

31-07-2023




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