segunda-feira, 8 de setembro de 2014

TESTAMENTO


Quando estudante no Rio de Janeiro meu caminho diário para o hospital era pela Avenida Graça Aranha. Nesta avenida tinha um teatro que, por vários anos exibiu a peça o “Auto da Compadecida” do dramaturgo Ariano Suassuna.
Logo me interessei pela obra do autor, um intelectual paraibano que, além de dramaturgo, era romancista, poeta, cartunista e desenhista.
Membro da Academia Brasileira de Letras era reverenciado em todo o país. Muitos de seus trabalhos foram publicados no exterior.
Nos últimos anos da sua vida era convidado para palestras em Universidades e Casas de Cultura.
Há poucos dias, assistindo a uma reprise do programa do Jô Soares, gravado em 2007, com Suassuna sendo o entrevistado, descobri o grande humorista que recentemente o Brasil perdeu.
Em sessenta minutos de perguntas e respostas inteligentes, aprendi a valorizar ainda mais o homem de cultura que tinha a cara da humildade.
Fatos simples do nosso cotidiano eram transformados por Suassuna em pérolas do mais valioso e refinado humor.
Durante o seu “show” não utilizou nenhuma palavra de baixo calão. Presenteou-nos com o relato de várias histórias hilariantes. Todas narradas em um linguajar elegante, simples, compacto, sem ofender nem agredir ninguém.
Ouvir o paraibano-pernambucano é esquecer por alguns instantes do mundo de idiotas em que vivemos.
O sertanejo culto era tão seguro daquilo que representava na nossa cultura, que não mudou o seu modo de vestir ou falar.
Uma lástima que, por pura ignorância, só vim a descobrir o humor do dramaturgo no seu testamento revelado pelo programa do Jô.

Gabriel Novis Neves
04-08-2014

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