Certa
ocasião, um antigo político desta terra tentava me convencer a entrar para a
vida partidária. Após esgotar o seu repertório de vantagens que a vida pública
oferece e diante da minha indiferença apelou: “além de tudo o poder é
afrodisíaco”.
Com
o tempo me esqueci das outras vantagens enumeradas: “merenda”, “mensalinho”,
“mensalão”, “sorte nos negócios”, viagens para qualquer parte do mundo com
todas as despesas pagas, “cartões corporativos”, “acompanhantes” e “passaporte
vermelho”, pratos básicos da mordomia que o poder oferece.
Salários
sem teto com seus balangandans de benefícios, lembrando “o que que a baiana
tem”, além do título de excelência.
O
que me ficou gravado mesmo, talvez por ser médico, foi o efeito “afrodisíaco”,
que dizem rejuvenescer as pessoas desse seleto clube.
Será
que esses efeitos farmacológicos existem mesmo ou são quadros fantasiosos em
frágeis personalidades?
A
verdade é que muita gente, que nunca foi notada no mundo glamoroso dos
encantamentos sociais, torna-se presente com o crachá do poder.
A
liberação de estímulos nervosos pela rápida ascensão social costuma provocar
reações químicas extremamente agradáveis ao carente organismo, como as
endorfinas diante de um esforço físico continuado.
A
exposição é vital ao político, onde nessa carreira não é permitido o
ostracismo, pois quem não é visto não é lembrado.
“Falem mal, mas falem de mim” faz parte do
estatuto desse profissional.
O
eleitor adora histórias de mocinhos e vilões. São lembrados nas urnas sempre
com bons resultados.
Antigos
guardiões da ética e da moral, implacáveis julgadores da conduta alheia, quando
políticos, se transformam em verdadeiras bailarinas chamando a atenção de
todos.
O
que interessa é a luminosidade da evidência.
Não
me surpreendo mais com essas metamorfoses de conduta - de trombeteiros da
discrição para as arenas dos escândalos.
É
possível que estas mudanças os façam felizes. Recuperam a sua autoestima, na
maioria das vezes arranhada pelo anonimato numa época em que é tão importante
aparecer.
O
poder deve mesmo ser afrodisíaco para explicar o que presenciamos nos seus
detentores.
Ou
será mais um engodo na cartilha dessa gente?
Gabriel
Novis Neves
10-09-2014
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