sexta-feira, 26 de setembro de 2014

AFRODISÍACO


Certa ocasião, um antigo político desta terra tentava me convencer a entrar para a vida partidária. Após esgotar o seu repertório de vantagens que a vida pública oferece e diante da minha indiferença apelou: “além de tudo o poder é afrodisíaco”.
Com o tempo me esqueci das outras vantagens enumeradas: “merenda”, “mensalinho”, “mensalão”, “sorte nos negócios”, viagens para qualquer parte do mundo com todas as despesas pagas, “cartões corporativos”, “acompanhantes” e “passaporte vermelho”, pratos básicos da mordomia que o poder oferece.
Salários sem teto com seus balangandans de benefícios, lembrando “o que que a baiana tem”, além do título de excelência.
O que me ficou gravado mesmo, talvez por ser médico, foi o efeito “afrodisíaco”, que dizem rejuvenescer as pessoas desse seleto clube.
Será que esses efeitos farmacológicos existem mesmo ou são quadros fantasiosos em frágeis personalidades?
A verdade é que muita gente, que nunca foi notada no mundo glamoroso dos encantamentos sociais, torna-se presente com o crachá do poder.
A liberação de estímulos nervosos pela rápida ascensão social costuma provocar reações químicas extremamente agradáveis ao carente organismo, como as endorfinas diante de um esforço físico continuado.
A exposição é vital ao político, onde nessa carreira não é permitido o ostracismo, pois quem não é visto não é lembrado.
 “Falem mal, mas falem de mim” faz parte do estatuto desse profissional.
O eleitor adora histórias de mocinhos e vilões. São lembrados nas urnas sempre com bons resultados.
Antigos guardiões da ética e da moral, implacáveis julgadores da conduta alheia, quando políticos, se transformam em verdadeiras bailarinas chamando a atenção de todos.
O que interessa é a luminosidade da evidência.
Não me surpreendo mais com essas metamorfoses de conduta - de trombeteiros da discrição para as arenas dos escândalos.
É possível que estas mudanças os façam felizes. Recuperam a sua autoestima, na maioria das vezes arranhada pelo anonimato numa época em que é tão importante aparecer.
O poder deve mesmo ser afrodisíaco para explicar o que presenciamos nos seus detentores.
Ou será mais um engodo na cartilha dessa gente?

Gabriel Novis Neves
10-09-2014

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