quarta-feira, 10 de setembro de 2014

O MUNDO PET


O Brasil é o segundo maior mercado do mundo no setor de “lojas pet” (comércio dedicado ao cuidado e tratamento de animais domésticos).
É tão absurda esta situação que em S. Paulo, a maior cidade do Brasil, existe duas lojas pet para cada livraria.
Vários fatores explicam esse tipo de aberração.
O primeiro, com certeza, é a grande solidão humana, escancarada a partir dos anos noventa com o surgimento da globalização.
Pessoas foram perdendo pouco a pouco o interesse pela comunicação “olho a olho” e logo depois, com o advento da internet, viram sua afetividade totalmente à deriva.
O mercado de consumo, sempre muito atento a toda e qualquer transformação psicossocial, foi logo se apoderando desses novos comportamentos e tratando de tirar proveito.
O cão, animal amigo que sempre acompanhou o ser humano desde os primórdios da civilização, foi se transformando num símbolo de status e, principalmente, adaptado para suprir todas as carências de um mundo moderno frio e motivado para bens de consumo como meta prioritária.
E os cães, doadores de afeto incondicional, foram  os grandes eleitos para desempenhar essas novas funções.
As rações foram aprimoradas tecnologicamente e os sprays antipulgas funcionam como facilitadores desse novo modismo, tornando assim bem menores os trabalhos de manutenção desses bichinhos.
O mesmo aconteceu  com gatos, hamsters e outros menos domesticáveis, mas, nem  por isso menos procurados,  tais como cobras, porcos, papagaios, pássaros etc.
Aumentadas as nossas carências, era de se esperar que os mais neuróticos passassem a transformar os seus bichos em figuras semelhantes a si mesmos nos seus mimos, tornando esse processo involuntário de domesticação  em uma crueldade.
É grande o número de animais que com esse tipo de convivência - em que a sua própria natureza é agredida - se torna obeso, neurótico, com colesterol alto, enfim, com todas as mazelas que afligem o mundo dos humanos.
Isso sem falar das festas de aniversários, dos brinquedos, dos apetrechos grifados, das joias e de todas as baboseiras  apregoadas como importantes para o consumismo.
O fato é tão grave que no momento em que milhões de crianças morrem pelo mundo vítimas da fome, está sendo procurada em S. Paulo uma grande área para ser transformada num clube para animais.
Amo e respeito profundamente todos os animais  como seres da natureza, assim como amo as plantas.
Mas, por favor! É preciso que permitamos a eles  vivenciarem a sua essência de bichos, puros, simples, honestos, e não transformá-los nesses seres desprezíveis em que nos tornamos no mundo moderno, cheios de medos, ódios e agressividade  desmedida.
Aliás, é mais barato e mais gratificante substituir filhos por animais. Os bichos não reclamam, não brigam por herança e dão afeto incondicional.
Este é o mundo considerado moderno.

Gabriel Novis Neves
31-08-2014

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