Cuiabá – Guarulhos (SP), viagem de avião e de carro - em trânsito engarrafado -, check-in no hotel e o fuso horário traidor da cidade grande, foram os responsáveis pelo meu almoço às três horas da tarde.
Tenho o hábito de não mexer no marcador de horas do meu relógio. Prefiro relembrar dos princípios básicos da matemática de somar e subtrair. Em certo momento, fui alertado pela minha experiente enfermeira que estávamos em cima da hora para o primeiro compromisso.
Dei uma olhadela no meu relógio, comprado para ser ofertado ao assaltante, nosso companheiro de todas as horas, fiz a soma de uma hora e me apavorei. Estava atrasado. Conduta inconcebível e intolerável para mim. O melhor administrador do tempo é o médico. Cedo aprendi que, para exercer essa profissão teria que estar ao mesmo tempo em vários locais - para sobreviver com o salário recebido. No corre-corre fui vencendo as etapas dos compromissos agendados na cidade possuidora do pior trânsito do mundo.
Terminamos o dia com uma visita a um hospital para discutir dúvidas, que na verdade era uma consulta médica. Fomos atendidos às dez horas da noite e deixamos o consultório uma hora depois, tudo na maior simplicidade.
Pedi à minha enfermeira que me levasse para o hotel. Estava cansado e com sono, além disso, no dia seguinte teríamos compromisso às sete horas.
Ela nem me escutou, ou fingiu não escutar, e insistiu que deveríamos jantar. Tentei argumentar que preferiria ir dormir. Então ela disse:
- Amanhã é dia de jejum, e sabe Deus até que horas!
Retruquei dizendo que o sono alimenta.
- A alma, mas o estômago continuará vazio – ela respondeu, calmamente.
Concordei com ela. Fomos então jantar. Ainda tive que escutar uma gozação por parte dela:
- Se sono tirasse a fome e realmente alimentasse o governo não teria feito o Programa Fome Zero.
Dormi pouco esse primeiro dia na grande cidade. Foi difícil seguir o cronograma do dia seguinte. No final, tudo deu certo, e cá estou eu de volta à minha cidade. Nesta madrugada cuiabana de ventos fortes e chuva, pensei comigo: manga vem por aí, com toda certeza. Já ouço a satisfação dos pássaros com as suas algazarras saudando a primavera. Depois vem o controvertido horário de verão.
Tenho direito à vida com todas as suas complicações. No dizer de um anônimo - “Se a vida é uma piada, quem está se divertindo?”
Gabriel Novis Neves
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