quarta-feira, 14 de julho de 2010

OS FUXIQUEIROS



Fiz hoje exatamente o que faço há vinte anos. Com o céu ainda estrelado, eu acordo. Tomo o meu guaranazinho da longevidade e “acendo” o meu computador para saber se posso sair às ruas com segurança para a minha caminhada matinal. A caminhada é imprescindível para os idosos e para aqueles que amam a saúde. Assim que o dia começa a clarear desço para o exercício.

Ao chegar à calçada, bem em frente ao prédio onde moro, vejo uma faixa. Olhei de relance para aquela faixa. Afinal, elas estão sempre presentes, nos aniversários, noivados, casamentos, anunciando vitória de candidatos no vestibular, bodas de todos os metais, festas, promoções e até prêmios para localizar cachorros perdidos. Acontece que alguma coisa naquela faixa me chamou a atenção. Olhei agora com mais atenção e, levei um susto! Era o meu nome que estava na faixa! Fiquei perplexo! O que eu estava fazendo ali naquela faixa? Não era meu aniversário nem nada! Li com atenção o texto escrito. Agora sim, estava mais perplexo ainda! Fui andando, ainda pensando no significado daquela faixa, quando percebi que ao longo da rua havia várias faixas penduradas. Elas iam da porta do meu prédio até a Padaria Viena que fica no final do quarteirão. Pensei: “Meu Deus! Será que eram todas para mim?” E eram. Fui caminhando e lendo as faixas.

Na 1ª faixa estava escrito, em letras garrafais: “PARE DE ESCREVER GABRIEL NOVIS – VOLTE PARA NÓS”. Tinha até assinatura: OS FUXIQUEIROS. A faixa estava toda decorada com coraçãozinhos cor de rosa
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Na 2ª faixa, ocupando toda a extensão da rua, estava escrito: “VOLTA GABRIEL NOVIS – ESTAMOS COM SAUDADES”. Assinada pelos Fuxiqueiros, aliás, todas eram dos Fuxiqueiros. Também esta estava enfeitada com vários coraçãozinhos cor de rosa.


Na 3ª faixa, localizada bem na esquina da padaria, estava escrito: “VOLTE GABRIEL NOVIS - ACABE COM O NOSSO ESTOQUE DE PÃES!" Os Fuxiqueiros, lógico.


Lógico também que estas faixas e os seus dizeres ocuparam todos os meus pensamentos durante a caminhada. Então vejamos: na 1ª faixa entendi o recado como certa censura às minhas fotografias ou radiografias do nosso cotidiano. Mas, com carinho, e por certo que eram de amigos, pois queriam que eu voltasse. Para onde ainda não sei bem, mas queriam que eu voltasse. Na 2ª faixa, como diz meu povo, eu me senti envergonhado. Quem estava com saudades de mim? Por certo que também eram de amigos, pois ninguém sente saudades de inimigos. Só pensava nas minhas cinco netas analisando “aquela homenagem ao vô...” A 3ª faixa tomou mais o meu tempo em reflexões e merece uma parte especial, pois, com ela descobri a identidade dos fuxiqueiros.

Todos os fuxiqueiros sabem que estou fazendo higiene alimentar por determinação médica, pois andei maltratando o ponteiro das balanças. Nada de grave que merecesse um cartão amarelo ou vermelho. Apenas uma severa advertência. Procurei evitar o perigo de cair em tentação, seguindo o que aprendi em casa - “O que os olhos não vêem o coração não sente.” Parei, portanto de freqüentar a padaria: aquilo é um verdadeiro inferno para quem não quer cair em tentações engordativas. E todos os fuxiqueiros sabem que eu adoro pãozinho quente, minha alimentação predileta. Avisei os fuxiqueiros da minha decisão. Houve até um “bolão” para saber quanto tempo demoraria esta minha dieta. Todos perderam, até eu: perdi oito quilos. Inconformados partiram para a “de-FAMA-ção” deste pobre ser humano. É pelo menos desumano esta atitude, tentando minar a força de vontade, característica maior do alvo da gostosa e salutar brincadeira.

Conversei com analistas do comportamento humano sobre este assunto e eles chegaram às seguintes conclusões. “Os fuxiqueiros são seus verdadeiros amigos. Padecem do Complexo de Édipo e não conseguem viver sem a sua companhia. Acham que estão te perdendo para a literatura. Consideram você como um Deus da Saúde, e jamais irão acreditar na história da dieta, típica de doentes”.

Devo confessar que passei momentos felizes com a brincadeira. Fico imaginando a rodinha de amigos confabulando sobre as faixas e caindo na gargalhada. Eles também devem ter passado momentos felizes. Mas, tomei minha decisão: vou continuar com a minha higiene alimentar e vou continuar a escrever. E eles? Vão continuar a fuxicar
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Gabriel Novis Neves ( 7.5 + 04 )
10/07/2010

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